Durante o período de pandemia que o planeta passou, essa
janela temporal em que tudo mudou, causou indirectamente o acelerar de um processo
de digitalização que já estava em curso, ainda que lentamente. A necessidade de
manter o sector funcional e fazer o seu “upgrade”, deram azo a várias iniciativas.
Esta significativa transformação no sector dos transportes marítimos e na
logística tem feito a diferença, mas se por um lado, as integrações de
tecnologias avançadas tornaram o processo de envio e recebimento mais eficiente,
por outro lado a digitalização trouxe um novo desafio, que tem tido o seu
efeito negativo: Os ataques cibernéticos.
A digitalização do sector de transporte marítimo e dos
terminais portuários é uma resposta à exigência por uma maior eficiência,
rastreabilidade e segurança. A utilização de sistemas de gestão de transporte, acompanhamento
em tempo real, sensores IoT (Internet das Coisas) e a automação de processos
têm melhorado a velocidade e a precisão da movimentação de cargas, resultando
em redução de custos e aumento da capacidade operacional.
No entanto, essa transformação tecnológica não está isenta
de riscos, sendo um dos principais desafios a segurança cibernética. Os ataques
cibernéticos podem ter um impacto devastador no setor, afetando tanto nos
armadores quanto nos terminais portuários. Quais são as principais
consequências por norma detectadas?
. Interrupções Operacionais
Ataques cibernéticos podem paralisar as operações de um
terminal portuário ou de uma companhia de navegação. Isso pode resultar em
atrasos na carga e descarga de mercadorias, gerando prejuízos financeiros e afectando
toda a cadeia de suprimentos. Como todos sabemos, na indústria do shipping,
tempo é precioso e a sua gestão tem de ser cirúrgica. Se qualquer ganho de
tempo é tido como uma elevação do grau de eficiência, o inverso é visto em
parte como um desastre. Todo o processo tanto burocrático e tecnológico na
parte dos armadores, como na operação e gestão operacional de um terminal
portuário sofrem graves consequências e os prejuízos podem ser vistos através
nos atrasos relativos à carga, mas igualmente a nível de danos na estrutura em
si.
. Roubo de Dados Sensíveis
Outros prejuízos quantificados são os dados confidenciais,
como informações de carga, itinerários de navios e detalhes de clientes, que são
alvos valiosos para cibercriminosos. O vazamento de tais informações pode
prejudicar a competitividade das empresas e colocar em risco a segurança
nacional em casos mais extremos. O prejuízo a nível de custos para se recuperar
essa informação, o dano reputacional devido à exposição de uma fragilidade não
pode, nem deve ser ignorado. A blindagem de toda a estrutura informática é
fundamental para salvaguardar todo o sistema e respectivos processos.
. Risco de Colisões e Acidentes
A digitalização trouxe sistemas avançados de navegação, mas
também os tornou vulneráveis a ataques. Um ataque cibernético direccionado aos
sistemas de controlo de um navio pode resultar em riscos graves, incluindo
colisões ou encalhes. A incorporação das novas tecnologias nos navios foi sem
dúvida um grande processo, mas também se tornou uma espécie de calcanhar de aquiles,
se bem que até ao momento, não houve um grande evento negativo de enorme magnitude
e os novos navios que ajudarão no processo de descarbonização, estão cada vez
mais preparados tecnologicamente para lidar com este tipo de ameaças.
, Ameaças à Cadeia de Suprimentos
Ataques cibernéticos podem comprometer a segurança da cadeia
de suprimentos, permitindo a entrada de mercadorias falsificadas ou perigosas, e
não só. A digitalização da própria documentação em si, pode levar a que haja
ataques específicos que poderão adulterar dados concretos, que em si,
representa uma enorme ameaça, tendo em conta que existem produtos perigosos e voláteis
que circulam pelo meio logístico. Pode representar um risco de segurança, à
saúde pública e à integridade dos produtos.
O que podemos tentar fazer para alterar o paradigma?
Diante dos desafios impostos pelos ataques cibernéticos, é
fundamental que as empresas do sector de transporte marítimo e terminais
portuários adoptem medidas proativas para mitigar esses riscos. Algumas acções poderão
incluir:
. Reforço da Segurança Cibernética
Esta iniciativa é a mais óbvia, e igualmente a mais dispendiosa.
Investir em sistemas de segurança cibernética robustos, reforçar os já
existentes, qualificar e detectar todos os pontos fracos, apostar em opções
como firewalls, detecção de intrusão e criptografia, é fundamental para
proteger os sistemas digitais. É um processo muito contínuo, porque a evolução
envolvida a curto e médio prazo, obriga a que haja uma sempre redobrada atenção
e qualquer descuido pode revelar-se de certa forma fatal.
. Treino de Pessoal
Educar os funcionários sobre as ameaças cibernéticas e a
importância das práticas seguras na utilização de sistemas digitais é crucial,
mas só até certo ponto. Ter profissionais devidamente qualificados e preparados,
e com a experiência necessária é fundamental. Não há nenhuma empresa do sector
que se possa dar ao luxo de manter pessoas mal preparadas, sem instinto e
capacidade de antecipação para um assunto tão sério como segurança cibernética.
. Monitorização Contínua.
Estabelecer uma equipa de monitorização de segurança
cibernética para identificar e responder rapidamente a possíveis ameaças é uma
opção viável e atendível a nível de custos, sendo que possíveis prejuízos são
elevadamente maiores. Acompanhar as mudanças no processo, detalhar e eliminar
as suas lacunas e reforçar este compromisso, representa meio caminho andado
para a chamada “zona de segurança activa”.
. Parceria com Especialistas
Colaborar com empresas especializadas em segurança
cibernética pode fortalecer a defesa contra ataques, no sentido de aproveitar a
sua “expertise” para colmatar buracos no sistema ou para reforço. O problema irá
ser sobretudo as políticas de compliance de cada empresa, para além do facto de
que se existir algum tipo de alteração contratual, poderá causar atrasos neste
processo contínuo, que é de tudo desaconselhável.
O que podemos concluir de tudo isto?
A digitalização do shipping e dos terminais portuários trouxe inúmeros benefícios, mas também desafios significativos relacionados à segurança cibernética. Os ataques cibernéticos representam uma ameaça real para a eficiência, segurança e integridade das operações. Portanto, é essencial que as empresas desse sector estejam preparadas para enfrentar essas ameaças, investindo em medidas de segurança cibernética sólidas, treino e monitorização contínua. A mitigação eficaz dos riscos cibernéticos é essencial para garantir que a digitalização do sector de transporte marítimo seja verdadeiramente benéfica para todos os envolvidos. Mas se de facto, já é um desafio actual, mais desafiante irá ser no futuro, com todo o desenvolvimento e evolução e com a respectiva optimização e simplificação. Preparar o futuro para que a digitalização tenha mais benefícios do que malefícios deverá ser o grande objectivo nesta matéria.
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