A jovem sagrou-se, no domingo, campeã mundial de surf adaptado na Califórnia e admite ser um exemplo para quem, como ela, nasce com alguma dificuldade física.
Marta Paço nasceu a 7 de janeiro de 2005. Tem apenas 16 anos e muito para contar, ou não tivesse já escrito o nome na história do desporto português - ao sagrar-se campeã de mundo de surf adaptado - e provado que, o que parece impossível, pode ser só uma barreia ultrapassável.
A jovem, natural de Viana do Castelo, nasceu invisual mas nunca deixou que isso fosse uma sentença para fazer o que quer que fosse. Praticou goalball, desporto colectivo com bola praticado por atletas invisuais e equitação. Até que, há quatro anos, em 2007, começou a surfar as primeiras ondas e apaixonou-se perdidamente pela modalidade. Um amor que deu frutos logo em 2009, quando se sagrou campeã europeia.
"Houve um meeting europeu de surf adaptado em Viana que envolvia atletas de vários países, como Espanha, França ou Itália, e aconteceu na altura em que conheci o meu treinador, Tiago Prieto, que era cliente no café da minha mãe. Foi aí que dei os meus primeiros passos no surf", começou por contar Marta.
No mar, é onde a atleta se sente mais livre e com a cabeça limpa. "Para mim, no mar não há obstáculos. Sinto-me completamente à vontade e muito mais livre", acrescenta. Marta treina quatro vezes por semana e consegue conciliar a parte desportiva com as aulas na Escola Secundária de Monserrate, onde estuda, e com lições de piano e inglês. Está no 11.º ano e pretende seguir Relações Internacionais, ainda que prefira viver "um dia de cada vez" e "deixar as coisas acontecerem".
"Costumo treinar quatro dias por semana, entre duas a duas horas e meia", revela Marta, que vê no treinador um grande pilar, além da família, que sempre a apoiou. "Ele é os meus olhos na água. Se eu falhar ele falha, se ele falhar eu falho. Somos uma equipa. Nas competições, ele vai ao meu lado mas nunca me pode tocar. As orientações têm de ser verbais. Caso ele me toque, sou desclassificada. Ele dá-me dicas e avisa quando vem uma boa onda. E depois, o resto é comigo".
E a equipa não podia funcionar melhor. No domingo, Marta sagrou-se campeã mundial na Califórnia. "Demorou um bocadinho a cair-me a ficha, embora tenha percebido logo pela reacção das pessoas o que tinha conseguido. Festejei logo com o meu treinador. Quando comecei a praticar surf, nunca pensei em competir a sério, mas vou continuar. Vai ficar para a vida!".
E mais do que o mundial, Marta conseguiu algo maior: ser uma inspiração para muitos. "Tenho recebido muitas mensagens de pessoas que dizem que, depois de terem conhecido a minha história, sentiram-se inspiradas a concretizar alguma coisa que tinham planeado e que tinham deixado por conta da deficiência, E isto era uma coisa que gostava de fazer, ser uma inspiração. Apesar da responsabilidade que isso implica".
Não podia estar no melhor caminho.
Foto: Rui Manuel Fonseca/Global Imagens
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