terça-feira, 11 de junho de 2024

A Dignidade no Trabalho Portuário

O trabalho portuário, invisível para a maioria dos portugueses, é indiscutivelmente crucial para a economia, o desenvolvimento do país e o fluxo contínuo de mercadorias. 

Este setor enfrenta desafios singulares: rotatividade de turnos, condições meteorológicas adversas e a pressão para executar tarefas rapidamente, muitas vezes sem as condições ideais para o efeito.

Apesar do desgaste físico e emocional, os trabalhadores portuários dedicam-se diariamente, mesmo diante da desmotivação e da fadiga. Muitos destes trabalhadores já possuem restrições médicas que de certa forma, já condicionam a vida profissional e familiar.

O conhecimento geral da profissão, não abrange as dificuldades silenciosas enfrentadas por estes profissionais, frequentemente tratados como peças descartáveis. A experiência acumulada ao longo dos anos deveria ser valorizada, não apenas através de melhores salários e condições de trabalho, mas também pelo reconhecimento do papel essencial que desempenham. A realidade do desgaste físico é exacerbada pela pressão das empresas para investir em automação, muitas vezes ineficaz, enquanto negligenciam a saúde mental dos trabalhadores, resultando em altos níveis de burnout e fuga de talentos para outros sectores e até para fora do país.

Valorização é crucial para a preservação do conhecimento adquirido e para garantir um futuro sustentável para o sector. A evolução global dos portos deve reflectir essa necessidade. O estereótipo do trabalhador portuário do passado não se aplica ao contexto actual, de forma alguma.

Ignorar esses factores pode levar a soluções inadequadas e impulsivas para problemas estruturais. A mão-de-obra deve ser cada vez mais qualificada, e uma eventual expansão de incorporação de trabalhadores para fora do espaço comunitário ou da CPLP - Comunidade de Países de Língua Portuguesa,  ( Sendo que estes já existem nos portos e estão devidamente integrados), pode ser vista como uma ameaça à dignidade do trabalho portuário. 

Este movimento não é sobre racismo ou xenofobia, mas sobre evitar a precarização do trabalho, onde migrantes são utilizados para comprimir salários e direitos, muitas deles possivelmente a viver em condições sub-humanas. Tal abordagem pode desencadear problemas sociais graves, pois agravam não só a parte da habitação, por exemplo, que já existe no nosso país, como poderão ser utilizados como peões em virtude da fragilidade da sua situação no nosso país.

A globalização tem os seus custos, mas se estes resultarem em degradação das condições de trabalho em troca de economia de custos, o retorno será miserável. O trabalho portuário em Portugal precisa de melhores condições e um futuro sustentável, fundamentado na melhoria das condições actuais e não na busca incessante por lucros a todo o custo.

O futuro está nas mãos dos trabalhadores do sector, pois só eles podem responder a possíveis ameaças à sua classe profissional. A dignidade no trabalho portuário é essencial para um desenvolvimento justo, dentro do contexto humano, laboral e de direitos.

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