O preço dos fretes marítimos deverá "estabilizar" este ano, depois de uma queda acentuada, que já chega aos 80%, mas em valores "ligeiramente acima" dos praticados antes da pandemia, disse o presidente da APAT à Lusa.
O presidente executivo da Associação dos Transitários de Portugal (APAT), António Nabo Martins, acredita que "os preços tendem a estabilizar" mas "ligeiramente acima do que eram antes da pandemia", indicou.
"Na altura, um frete da Ásia para a Europa era de cerca de dois mil dólares", referiu, recordando que os armadores terão de actualizar os navios "ao que são energias mais renováveis e mais sustentáveis do ponto de vista ambiental" e que esta questão irá exigir algum investimento.
Além disso, destacou, "isso significa tirar navios do circuito", o que desde logo implica "baixar a oferta, e ao baixar a oferta os preços vão subir".
Em entrevista ao Negócios, António Belmar da Costa, presidente da Associação dos Agentes de Navegação de Portugal (Agepor) alertou para a "tempestade perfeita", agora em sentido contrário, que se estava a formar com a queda abrupta dos preços, depois de estarem muito elevados durante a pandemia.
António Nabo Martins explicou que "o que aconteceu na primeira onda da tempestade perfeita" foi algum alarme "porque as companhias marítimas não estavam a conseguir dar resposta".
"A qualidade do serviço desceu consideravelmente e passamos a ter índices de regularidade inferiores a 25%", destacou, indicando que, por exemplo, o transporte de matéria-prima, que poderia demorar dois ou três meses, passou a demorar sete ou oito. Isto fez com que as empresas começassem a antecipar as encomendas.
"Este aparente excesso de consumo não era real, ou seja, estavam a antecipar encomendas que iam receber 'a posteriori'", destacou, acrescentando que voltou assim a haver acumulação de 'stocks' e que as empresas não estão a precisar, por isso, de encomendar.
Além disso, a "inflação, subida dos juros e retração do consumo", bem como os efeitos da guerra na Ucrânia, "fazem o resto" neste cenário. De acordo com dados da consultora Drewry, referentes à semana de 22 de dezembro, o índice de preços global de contentores desceu pela 43.ª vez, em termos semanais, uma redução de 77% face à mesma semana de 2021.
Mas em comparação com valores de setembro de 2021, a queda atinge os 80%, de um pico de 10.377 dólares por contentor para 2.120 dólares em dezembro de 2022. Ainda assim, mantém-se 49% acima de valores de 2019.
António Nabo Martins deixou ainda críticas aos armadores. "Houve muitas companhias marítimas que, com esta questão da integração vertical e a globalização completa do mercado, deixaram de cotar transitários, deixaram de cotar clientes mais pequenos e começaram directamente ao mercado", referiu, adiantando que em alguns casos estão a voltar a recorrer a estas empresas, por não conseguirem fidelizar clientes.
"O nosso país é de pequenos importadores e exportadores que não têm capacidade para negociar no mercado global e têm de recorrer ao transitário, que é quem faz a consolidação e a junção de várias encomendas, para assim conseguirem ser mais competitivos", adiantou. "O que para nós é bom é que haja um equilíbrio em que a pessoas consumam e nós compramos e vendemos dentro daquilo que é o preço de mercado justo", referiu, indicando que na pandemia o preço foi injusto, mas que também não se pode cair no erro dos "fretes zero".
Numa análise de dezembro, a Fitch Ratings estimava um ano de 2023 mais complicado para a indústria do transporte marítimo, com a queda do preço dos fretes, alertando que "os lucros serão muito mais fracos este ano do que nos últimos três anos".
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