quinta-feira, 26 de janeiro de 2023

Fretes devem "estabilizar" este ano em valores "ligeiramente acima" de 2019


O preço dos fretes marítimos deverá "estabilizar" este ano, depois de uma queda acentuada, que já chega aos 80%, mas em valores "ligeiramente acima" dos praticados antes da pandemia, disse o presidente da APAT à Lusa.

O presidente executivo da Associação dos Transitários de Portugal (APAT), António Nabo Martins, acredita que "os preços tendem a estabilizar" mas "ligeiramente acima do que eram antes da pandemia", indicou.

"Na altura, um frete da Ásia para a Europa era de cerca de dois mil dólares", referiu, recordando que os armadores terão de actualizar os navios "ao que são energias mais renováveis e mais sustentáveis do ponto de vista ambiental" e que esta questão irá exigir algum investimento.

Além disso, destacou, "isso significa tirar navios do circuito", o que desde logo implica "baixar a oferta, e ao baixar a oferta os preços vão subir".

Em entrevista ao Negócios, António Belmar da Costa, presidente da Associação dos Agentes de Navegação de Portugal (Agepor) alertou para a "tempestade perfeita", agora em sentido contrário, que se estava a formar com a queda abrupta dos preços, depois de estarem muito elevados durante a pandemia.

António Nabo Martins explicou que "o que aconteceu na primeira onda da tempestade perfeita" foi algum alarme "porque as companhias marítimas não estavam a conseguir dar resposta".

"A qualidade do serviço desceu consideravelmente e passamos a ter índices de regularidade inferiores a 25%", destacou, indicando que, por exemplo, o transporte de matéria-prima, que poderia demorar dois ou três meses, passou a demorar sete ou oito. Isto fez com que as empresas começassem a antecipar as encomendas.

"Este aparente excesso de consumo não era real, ou seja, estavam a antecipar encomendas que iam receber 'a posteriori'", destacou, acrescentando que voltou assim a haver acumulação de 'stocks' e que as empresas não estão a precisar, por isso, de encomendar.

Além disso, a "inflação, subida dos juros e retração do consumo", bem como os efeitos da guerra na Ucrânia, "fazem o resto" neste cenário. De acordo com dados da consultora Drewry, referentes à semana de 22 de dezembro, o índice de preços global de contentores desceu pela 43.ª vez, em termos semanais, uma redução de 77% face à mesma semana de 2021.

Mas em comparação com valores de setembro de 2021, a queda atinge os 80%, de um pico de 10.377 dólares por contentor para 2.120 dólares em dezembro de 2022. Ainda assim, mantém-se 49% acima de valores de 2019.

António Nabo Martins deixou ainda críticas aos armadores. "Houve muitas companhias marítimas que, com esta questão da integração vertical e a globalização completa do mercado, deixaram de cotar transitários, deixaram de cotar clientes mais pequenos e começaram directamente ao mercado", referiu, adiantando que em alguns casos estão a voltar a recorrer a estas empresas, por não conseguirem fidelizar clientes.

"O nosso país é de pequenos importadores e exportadores que não têm capacidade para negociar no mercado global e têm de recorrer ao transitário, que é quem faz a consolidação e a junção de várias encomendas, para assim conseguirem ser mais competitivos", adiantou. "O que para nós é bom é que haja um equilíbrio em que a pessoas consumam e nós compramos e vendemos dentro daquilo que é o preço de mercado justo", referiu, indicando que na pandemia o preço foi injusto, mas que também não se pode cair no erro dos "fretes zero".

Numa análise de dezembro, a Fitch Ratings estimava um ano de 2023 mais complicado para a indústria do transporte marítimo, com a queda do preço dos fretes, alertando que "os lucros serão muito mais fracos este ano do que nos últimos três anos".

Sem comentários:

Enviar um comentário

VLCC: Quais as maiores companhias globais no transporte de petróleo bruto?

Os VLCC (Very Large Crude Carriers), ou navios petroleiros de grande porte, desempenham um papel essencial na dinâmica do comércio internaci...