quinta-feira, 19 de maio de 2022

Os oceanos estão a começar a perder a memória








O efeito da inércia térmica na superfície do oceano, a que os cientistas se referem como a “memória” do mar, está em declínio devido às alterações climáticas. Isto tem implicações para a vida marinha e torna os fenómenos meteorológicos extremos mais imprevisíveis.

Com as alterações climáticas, os oceanos estão a tornar-se mais barulhentos — e também estão a começar a perder a sua memória e a tornar-se mais imprevisíveis, o que pode afectar a sua temperatura, estrutura, correntes e até a sua cor.

Um novo estudo publicado na Science Advances debruçou-se sobre este fenómeno “A memória do oceano, a persistência das condições do oceano, é uma enorme fonte de previsibilidade no sistema climático para além das escalas de tempo meteorológicas”, escrevem os autores.

Na pesquisa, a equipa estudou as temperaturas da superfície do mar na camada superior do oceano. Apesar das águas serem relativamente rasas — estendendo-se apenas até uma profundidade de 50 metros — esta camada superficial exibe uma grande persistência ao longo do tempo em termos da inércia térmica, especialmente comparada com as variações vistas na atatmosfera.

No entanto, os modelos sugerem que este efeito de “memória” na inércia térmica deve descer globalmente no resto do século, com variações dramáticas na temperatura previstas para as próximas décadas.

“Descobrimos este fenómeno ao examinarmos as semelhanças na temperatura na superfície do oceano de um ano para o outro como uma medida simples para a memória do oceano”, explica Daisy Hui Shi, investigadora climática e autora principal do estudo.

O efeito vai levar a uma maior mistura de águas no topo do oceano, o que efetivamente vai tornar a camada superficial mais fina.

Por sua vez, isto vai diminuir a capacidade do oceano para a inércia térmica, o que deixa a superfície mais susceptível a anomalias de temperatura aleatórias e dificulta as previsões das dinâmicas do mar e dos fenómenos extremos, como as monções.

Ainda não se sabe ao certo o que é que esta mudança significa para a vida marinha, mas os investigadores acreditam que o impacto é “provável”, apesar de haver algumas espécies que se devem adaptar melhor a este cenário do que outras.

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