O peixe-lua é o maior peixe ósseo do mundo: o seu corpo bastante arredondado pode ter mais de três metros de comprimento, quatro de altura, incluindo as barbatanas, e pesar duas toneladas. Até está no Livro Guinness dos Recordes, porque as fêmeas produzem até 300 milhões de ovos de cada vez. Ora foi atrás de 20 peixes-lua que andou uma equipa liderada por cientistas portugueses: prenderam-lhes marcadores e, durante três semanas, seguiram-nos desde a costa de Olhão em direcção a Espanha.
Os peixes-lua, ou Mola mola, vivem no Atlântico e Pacífico, nas zonas temperadas e quentes. Em Portugal, são comuns em toda a costa, sobretudo no Algarve. O seu comportamento pode dar indicações sobre as alterações climáticas, uma vez que a sua distribuição e migração são influenciadas pela temperatura da água. Identificam-se facilmente pela ausência de uma barbatana caudal e presença de uma barbatana dorsal e outra anal, que são simétricas.
Neste estudo, que incluiu ainda cientistas norte-americanos, espanhóis e noruegueses, os animais foram observados ao longo da costa de Olhão, durante Maio, para compreender a sua biologia, comportamento e hábitos alimentares (comem zooplâncton gelatinoso e pequenos crustáceos). “Queríamos conhecer melhor o comportamento do peixe-lua e, acima de tudo, através de observações in situ, caracterizar o habitat dos peixes em tempo real”, diz Nuno Queiroz, biólogo no Centro de Investigação em Biodiversidade e Recursos Genéticos (Cibio), no Porto.
Como ao largo de Olhão, a três milhas da costa, há uma rede de captura de atuns, os peixes-lua também acabam por ser apanhados por ela, o que se por um lado pode provocar o declínio das suas populações, por outro facilitou a obtenção de peixes para estudo (apanharam-se os mais pequenos, com 30 ou 40 quilos).
“Apanhávamos os peixes-lua e: ou os colocávamos num tanque em terra e posteriormente eram largados no mar, ou eram logo sinalizados com um marcador GPS”, refere o engenheiro electrotécnico e de computadores João Tasso Sousa, da Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto, envolvido na parte da robótica marinha do estudo.
Presos aos peixes por um fio, os marcadores ficavam a flutuar e emitiam a sua localização geográfica. “Quando o marcador estava à superfície, começava a emitir a posição GPS via satélite e nós recebíamo-la em terra. Quando os peixes mergulhavam, o marcador desligava-se para não gastar bateria. Basicamente, os peixes fazem este ciclo: vão ao fundo — podem ir até cerca de 600 metros — e depois vêm à superfície.”
Uma espécie-modelo
Apesar de ser um migrador de grande profundidade, também passa longos períodos à superfície. “Por que vêm à superfície? É para regular a temperatura. Colocam-se na horizontal para apanhar banhos de sol”, conta João Tasso Sousa, dizendo que têm dados em eles estavam umas horas à superfície. “Os colegas biólogos queriam saber qual é o comportamento dos peixes: quanto tempo passam à superfície e depois, quando mergulhavam, o que faziam.”
“O objectivo principal era obter, com elevada precisão e em tempo real, a localização dos peixes marcados. E, através de veículos autónomos, obter simultaneamente informação ambiental, como por exemplo a temperatura e a quantidade de potenciais presas”, explica Nuno Queiroz.
“Tal como outros peixes, deslocam-se a distâncias consideráveis e concentram-se em zonas produtivas [com zooplâncton]. É assim uma boa espécie-modelo: ao estudarmos o peixe-lua, podemos inferir características comuns a outras espécies”, conta o investigador do Cibio.
Uma vez recebidos os sinais GPS emitidos pelos marcadores nos 20 peixes-lua, eram accionados, em fases diferentes, três veículos robóticos, que iam ao encontro dos peixes-lua, graças à baixa velocidade com que se movimentam.
Atrás dos peixes, um veículo autónomo subaquático recolhia primeiramente os dados sobre a água, como a salinidade (obtida pela condutividade eléctrica), a temperatura e a pressão (profundidade). De seguida, um pequeno veículo autónomo aéreo fazia a confirmação visual dos peixes, para verificar se estavam realmente no local assinalado pelos receptores GPS. Por fim, um veículo autónomo de superfície recolhia dados oceanográficos, como a temperatura da água, a concentração de clorofila, a direcção e a força das correntes e dos ventos. O uso destas tecnologias, considera João Tasso Sousa, facilita o estudo da dinâmica dos ecossistemas.
“A ideia é tentar relacionar diferenças de temperatura com nutrientes e outros aspectos”, conta João Sousa. “Com uma câmara GoPro que tínhamos num dos veículos, conseguimos identificar, nalgumas zonas, concentrações grandes de zooplâncton.”
Fonte: Público
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