Governo australiano e
entidade que gere a reserva querem expandir um porto local e apostar
na exportação de carvão
A
Grande Barreira do Coral vai pagar o preço para a Austrália ficar
com o maior porto de carvão do mundo na província de Queensland.
A entidade que gere a mais vasta e rica barreira de recife de coral
do planeta autorizou hoje a descarga de até três mil milhões de
metros cúbicos (m3) de sedimentos para o fundo marinho da reserva -
composta por cerca de três mil corais e habitat para mais de 1600
espécies de peixe.
As
areias serão provenientes das dragagens para expandir o porto de
Abbot Point, localizado na ‘fronteira’ com a reserva marinha da
Grande Barreira do Coral. O objectivo é aumentar para 70 milhões de
toneladas a quantidade de carvão que, por ano, passará pelo porto –
o que aumentar até 2,7 mil milhões de euros os seus lucros e criará
mais de 15 mil postos de trabalho,
segundo o jornal “The Australian”.
A
ameaça já era real desde Dezembro, quando o Greg Hunt, ministro do
Ambiente australiano,
aprovara o projecto. Mas a sua execução ainda estava pendente do
aval da Autoridade do Parque Marinho de Grande Barreira do Coral
(GBRMPA, na sigla inglesa), que optou por abrir a porta a que três
milhões de m3 de sedimentos sejam depositados na reserva. As areias
serão extraídas do fundo do mar em Abbot Point, na zona exclusiva
do porto, e serão depositadas em Bowen, cerca de 24 quilómetros
mais a sul e ainda dentro da área da reserva.
Uma
decisão que “poderá sufocar os corais e plantas marinhas”,
alertou Selina Ward, bióloga marinha da Universidade
de Queensland e
uma das 233 cientistas que assinou a petição contra o projecto,
lembrou o “Financial Times”. Já Richard Leck, da organização
World Wide Fund for Nature, classificou a medida ao “The Guardian”
como “triste para as pessoas que se preocupam com o futuro da
Grande Barreira de Coral”, que se estende ao longo de 2600
quilómetros da costa nordeste australiana e concentra à volta de
10% dos corais existentes no planeta.
O
presidente da entidade explicou que as obras se vão efectuar em
Abbot Point por se tratar do porto (em actividade desde 1984) que
“está melhor localizado ao longo da costa da Grande Barreira de
Coral”. Russel Reicheit argumentou ao “Financial Times” que “a
dragagem necessária será muito menor à que teria de ser feita em
outros portos” da zona. A autoridade da reserva definiu ainda 47
“condições ambientais” que terão de ser respeitadas pelo
projecto – como “minimizar o impacto na biodiversidade” local
ou a “monitorização da qualidade da água” nos cinco anos
seguintes à descarga dos sedimentos.A Sociedade para a Conservação Marinha australiana já criticou a decisão, denunciando a alegada pressão exercida por Tony Abbott, primeiro-ministro do país, sobre a autoridade do parque marinho. “Esta decisão contraria os estatutos do parque marinho e acreditamos firmemente que reflecte uma pressão política exercida pelos interesses mineiros do governo”, disparou Felicity Wilshart, presidente da entidade.
Em
Setembro de 2013, aliás, o
primeiro-ministro australiano classificou
as taxas cobradas às emissões de dióxido de carbono e à
actividade mineira de “socialismo mascarado de ambientalismo”.
A
situação apenas se poderá alterar caso, em Novembro, a UNESCO
decida classificar como “em perigo” a Grande Barreira de Coral,
já que a reserva marinha é Património Mundial da Humanidade. O
próximo encontro desta entidade das Nações Unidas está agendado
para Junho, no Qatar, onde os seus responsáveis votarão esta
possibilidade.
Fonte: Ionline
Go
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