As profundezas do oceano costuma ser associadas a algo
assustador, digno de medo, devido à escuridão e às criaturas que lá residem e
que, longe da luz, assumem aspectos bizarros para nós que estamos habituados à
superfície. Mas essas criaturas não são o que há de mais tenebroso no fundo dos
oceanos. O que realmente assusta é, como não deveria ser de espantar, aquilo
que a actividade humana causou nas profundezas do oceano, e as consequências
que isso terá.
Segundo o jornal The Guardian, após as duas Guerras
Mundiais, os governos britânico, americano, soviético, australiano e canadiano
deitaram centenas de milhares de toneladas de armas químicas obsoletas para as
profundezas do oceano em várias localizações do mundo. Afundaram também navios
carregados de gás mostarda e agentes nervosos como sarin. Isto ocorreu até
1972, e cessou depois de centenas de pescadores na Europa e nos Estados Unidos
terem sido hospitalizados por transportarem para a superfície pedaços
solidificados de gás mostarda ou conchas que continham a substância.
Mais ainda, também se encontram no fundo dos oceanos grandes
quantidades de material nuclear: Segundo um estudo de 2019, são cerca de 18 mil
objectos radioativos no fundo do Oceano Ártico. Entre eles: o ‘K-27’, um
submarino nuclear movido por um reator experimental afundado em 1982; o ‘K-141
Kursk’, no Mar de Barents em 2000, que matou as 118 pessoas a bordo e levou o
seu reator e combustível para o fundo do mar; o ‘K-159’, que se afundou quando
ao ser rebocado perto de Murmansk, na Rússia, em 2003, com 800 kg de
combustível de urânio irradiado a bordo.
Perante estes dados, há quem diga que o fundo dos oceanos é
um "Chernobyl em câmara lenta ". O Chefe da Autoridade de Segurança
Nuclear da Noruega afirma que é uma questão de tempo até que os navios comecem
a libertar o seu legado tóxico.
Entre os responsáveis por esta situação, a União Soviética
foi quem mais despejou resíduos nucleares para o fundo do mar, mas a
contribuição de outros países também é considerável. Entre 1948 e 1982, o Reino
Unido despejou quase 70 mil toneladas. Também os Estados Unidos, a Suíça, o
Japão e os Países Baixos adoptaram esta prática. O governo britânico está a
estudar um plano para eliminar até 750 mil metros cúbicos de resíduos
nucleares, incluindo mais de 100 toneladas de plutónio, ao largo de Cumbria, na
costa britânica.
Mesmo sem os resíduos nucleares, o fundo dos oceanos carrega
várias marcas da actividade humana e do consumo desenfreado que tem vindo a
destruir o planeta. Mesmo nas profundezas do mar, tão distantes da nossa vida,
encontram-se em abundância resíduos humanos na forma de plásticos e outros
objetos como evidencia o Banco de Dados de Detritos do Mar Profundo da Agência
Japonesa para Ciência e Tecnologia Marinha-Terra. Foi documentada a presença de
pneus, redes de pesca, sacos de desporto, manequins, bolas de praia e biberões.
Em algumas regiões, o número de tais objetos excede 300/km2.
Também alarmante é o acumular de microplásticos nas
profundezas dos oceanos. A presença de microplásticos nos oceanos de um modo
geral é uma ameaça para todo o planeta, visto que animais como baleias e aves
começam a consumir microplásticos em grandes quantidades, não só conduzindo à
sua desnutrição e danificando os seus órgãos, como também implicando que os
microplásticos passam a entrar na cadeia alimentar de várias espécies.
Em águas mais profundas, a quantidade de microplásticos é ainda maior. Há estudos que sugerem que até 99,8% dos mais de 11 milhões de toneladas de plástico que entram no oceano todos os anos desaparecem em águas mais profundas.
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