segunda-feira, 1 de julho de 2013

Das caravelas das especiarias aos navios para petróleo e gás .


* Por Rúben Eiras.

Uma das marcas mais relevantes dos Descobrimentos portugueses foi a invenção da caravela, uma embarcação para viagens marítimas de longo alcance, baseada numa integração de tecnologias navais islâmicas e europeias.
E a par da caravela outras inovações tecnológicas foram introduzidas na navegação, desde novos instrumentos de náutica (como o astrolábio), a colocação de canhões nos navios para conferir superioridade qualitativa em situação de conflito bélico e novas técnicas de navegar, como por exemplo, a bolina (para navegar em sentido contrário ao do vento).
Ou seja, os portugueses para criarem uma nova rota para transporte marítimo das valiosas especiarias do Extremo Oriente, tiveram de inovar tecnologicamente para o conseguirem, como explica muito bem Jorge Nascimento Rodrigues nos seus livros "Portugal - Pioneiro da Globalização"  e no mais recente "As Lições dos Descobrimentos" .  
E não foi por terem especiarias no território português que o fizeram - foi exactamente por não as terem. E com isso os portugueses criaram uma indústria naval totalmente nova para os padrões europeus e mundiais de há 500 anos.

A nova indústria naval do petróleo e gás 


Actualmente há um sector que necessita com grande urgência de exímias competências na indústria naval, muitas destas existente em Portugal: a exploração e produção de petróleo e gás em águas profundas.
Com efeito, a exploração petrolífera em mar aberto e o crescimento da importância do mercado spot de gás natural liquefeito (GNL) estão a dinamizar a indústria naval de uma forma gigantesca.
Por exemplo, só no Brasil, na exploração do bloco Lula, na Bacia de Campos, onde a Galp Energia é membro do consórcio em conjunto com a Petrobras, serão necessários até 2020 perto de 40 FPSO  (Floating, Production, Storage and Offloading), navios de produção de produção de petróleo e gás de gigantescas dimensões. E em conjunto com estas unidades navais, são também necessárias outras míriades de embarcações para tarefas logísticas e de manutenção. 
Por outro lado, com o mercado de GNL já a representar 25% do mercado mundial de gás natural, e com significativas perspectivas de crescimento futuro, a procura de grandes transportadores de GNL tem vindo a aumentar de ano para ano.

As oportunidades para a indústria portuguesa 


Esta tendência significa que se Portugal definir um foco estratégico para a indústria naval de petróleo e gás, será possível com a infraestrutura de indústria naval e algum investimento externo (Brasil, Noruega e/ou Coreia do Sul, por exemplo) conquistar um posicionamento competitivo para apoio das operações marítimas na exploração petrolífera realizada no Atlântico Sul e, a muito mais longo prazo, no Atlântico Norte, no Árctico. 
É um facto que os sul-coreanos conseguiram construir uma forte indústria naval para petróleo e gás sem terem uma gota de crude no seu mar.
Se Portugal já fez o mesmo com as especiarias, não conseguirá também repetir a proeza com o petróleo e gás? Conseguiremos sim, se ultrapassarmos o nosso principal défice, o de pensamento estratégico, como já o disse André Magrinho, no portal Inteligência Económica . 

Fonte: Expresso




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