Donald Trump, em declarações mais recentes, afirmou que o aumento de tarifas não iriam resultar num aumento de valores no lado dos consumidores, facto que já foi refutado por um estudo da NRF ( National Retail Federation ), que concluiu que os próprios consumidores norte-americanos irão perder no poder de compra entre 46 mil milhões e 78 mil milhões de dólares nos anos seguintes pela aplicação deste novo plano de tarifas.
A reconhecida consultora norueguesa Xeneta, indicou que a última vez que Trump aumentou as tarifas sobre as importações chinesas durante a guerra comercial em 2018, as taxas de frete marítimo de contentores aumentaram mais de 70%, sendo que o aumento de tarifas na altura, não era tão grande como o que é proposto agora.
Tendo em conta este cenário, as acções dos principais armadores caíram à medida que os mercados se preocupavam com o que a presidência de Donald Trump significaria para os volumes de comércio global. A dinamarquesa Maersk caiu até 6,9%, enquanto outros armadores também sentiram o abalo, incluindo a alemã Hapag-Lloyd AG e a sul-coreana HMM.
No outro lado do mundo, o yuan da China enfraqueceu e os mercados de acções no continente e em Hong Kong caíram com a notícia desta eleição, provavelmente antevendo outro período de guerras comerciais entre as duas maiores economias do mundo. Com a escala da vitória a parecer histórica, o Shipping terá de se preparar para algumas mudanças extraordinárias nos próximos anos, não apenas nos fluxos comerciais e na geopolítica, mas também no ritmo das regulamentações verdes globais.
O reputado economista, especialista em assuntos maritimos, Martin Stopford, comentou: “A grande questão para o transporte marítimo é o realinhamento económico entre as economias do Pacífico e do Atlântico, que está em curso nos últimos 15 anos. O muro tarifário de Trump pode ser uma etapa nesse sentido, mas tal como os muros para impedir a entrada de migrantes, é difícil conseguir muito em quatro anos”.
Noutra opinião diferente, Khalid Hashim, Director da Precious Shipping, previu que a vitória de Trump levaria a um fim rápido da guerra na Ucrânia, ao levantamento das sanções contra a Rússia e a mais tarifas contra a China. Acrescentou: “Os preços do petróleo vão cair, podem ser quedas acentuadas, depende da rapidez com que as sanções contra a Rússia forem levantadas”, acrescentando que o transporte marítimo não deve estar muito preocupado com a retórica das tarifas. Finalizando: “Nos oito anos desde que os EUA iniciaram o jogo tarifário no início do primeiro mandato de Trump, as importações reais de tráfego de contentores para os EUA aumentaram dramaticamente. Veja os números declarados por Los Angeles e Long Beach, os dois maiores terminais de contentores dos EUA nos últimos oito anos, então não há nada a temer com as tarifas”.
Ainda de acordo com a consultora Xeneta: “2024 foi um ano brutal para os transportadores dos EUA, que já sofreram enormes perturbações devido à crise do Mar Vermelho e ao aumento vertiginoso das taxas de frete, há também, a ameaça iminente de novas acções de greve nos portos da Costa Leste dos EUA e da Costa do Golfo em janeiro do próximo ano”.
O que se pode ler entre declarações e análises, é que toda a indústria do Shipping já anda a definir cenários e opções para não só lidar com as circunstâncias e dificuldades actuais, bem como os eventuais obstáculos que poderão vir das decisões tomadas pela segunda administração Trump, que irá seguir o mesmo rumo de protecionismo económico do seu primeiro mandato, com as consequências que poderemos imaginar mas não definir com toda a previsibilidade.
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