sexta-feira, 24 de maio de 2024

Startup transforma o fumo de navios em água salgada e devolve ao mar


Os milhares de navios de carga que transportam desde roupas até carros emitem cerca de um bilhão de toneladas de CO2 a cada ano. Combustíveis de navegação mais limpos e inovações como velas modernas ainda levarão tempo para serem amplamente adoptados.

Mas uma startup está trabalhando numa solução que pode resolver o problema mais rapidamente. A empresa, chamada Calcerea, captura o Co2 que os motores dos navios emitem e transforma em água salgada, que pode ser devolvida com segurança ao mar.

A tecnologia, derivada de pesquisas do Instituto de Tecnologia da Califórnia, imita um processo natural. “Esta é a reacção de tampão que a Terra utiliza há bilhões de anos para lidar com o Co2 vulcânico que entra na atmosfera”, explica o professor do instituto e cofundador da Calcerea, Jess Adkins.

Ao longo de dezenas de milhares de anos, o Co2 no mar reage com conchas de calcário, transformando-se em íões de cálcio e bicarbonato. “É exactamente o mesmo que acontece no nosso estômago quando tomamos um antiácido”, compara Adkins. “É como um antiácido para o oceano.”

Adkins, um oceanógrafo químico, passou uma década estudando a ciência básica de como funciona o processo natural. Percebeu então que seria possível acelerar esse processo com um reactor para ajudar a combater o aquecimento global.

Nos navios, o sistema vai usar um “depurador” para capturar o Co2 do exaustor de diesel. De lá, o Co2 vai para um reactor junto com calcário e água do mar. A água passa pelos reatores, convertendo o Co2 em algo seguro e permanente.

 Embora a tecnologia ocupe um espaço que poderia ser usado para carga, a startup acredita que esta será a forma mais barata de descarbonização para as empresas de transporte marítimo.

Como o Co2 é convertido em cálcio e bicarbonato, não há risco de que ele escape de volta para a atmosfera. O produto final pode ser libertado no oceano, de modo que o navio não precisa de espaço extra para armazenar o carbono capturado. Como o processo acontece num reactor, é possível monitorizar quanto o Co2 é convertido.

Cerca de 90% do Co2 pode ser removido do "escape do navio. Metade é transformada em bicarbonato e o resto vai para o mar, onde a maior parte provavelmente será convertida pelo processo natural. O sistema também remove enxofre, outro grande poluente.

A startup testou protótipos da tecnologia básica em terra e comprovou que funciona. Agora, a companhia de navegação Lomar, em parceria com a Calcerea, vai desenvolver ainda mais o sistema. O último protótipo será testado num dos navios da empresa no final deste ano ou no início de 2025.

A tecnologia não substitui alternativas que podem evitar completamente os combustíveis fósseis e eliminar outros problemas, como a pegada de carbono da produção de diesel. Mas é uma maneira barata de reduzir significativamente as emissões.

“O Co2 que removemos hoje é muito mais importante do que o que removeremos em 10 ou 20 anos”, afirma Adkins. “Fazer com que uma indústria que emite um gigatonelada por ano comece a removê-lo agora é muito melhor para o clima do que esperar que surjam combustíveis alternativos.”

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