Há uma baleia no jardim. E faróis que iluminam as oliveiras.
E há imagens espectaculares do fundo do mar. Até Julho, a Fábrica das Artes do
CCB tem um ciclo dedicado ao oceano.
De longe parece mesmo o esqueleto de uma baleia. Mas à
medida que nos aproximamos, percebemos que não são ossos. São embalagens de
iogurtes e de detergente, em plástico branco. A Baleana plasticus é uma
escultura criada em 2014 pela bióloga Ana Pêgo e o fotógrafo Luís Quinta e que
agora está instalada no Jardim das Oliveiras do Centro Cultural de Belém (CCB),
em Lisboa. Está ali, ao lados dos faróis da exposição As portas do mar,
chamando a atenção para o ciclo "No fundo Portugal é mar", que vai
ocupar a Fábrica das Artes nos próximos meses. Mas, mais do que isso, está ali
chamando a atenção o problema da poluição dos oceanos e, especificamente, para
o excesso de plástico.
Bióloga marinha, nos últimos anos Ana Pêgo tem-se dedicado à
educação ambiental e passa muito do seu tempo recolhendo o plástico que aparece
na praia, trazido pelas marés. "A minha preocupação com o lixo marinho foi
aumentando", conta. No final de 2015 criou a página de Facebook Plasticus
Maritimus para mostrar as coisas que ia encontrando na praia e também para
pedir ajuda para identificar esses objectos. "Deixei de olhar para o lixo
da praia como lixo mas antes como objectos com história, que já fizeram
viagens", explica. Esses objectos são usados nas oficinas que orienta por
estes dias no CCB, porque o mais importante agora é informar as pessoas do mal
que estamos a fazer ao oceano e educá-las para o ambiente.
Expostos em vitrinas, organizados por cores ou por
"famílias", os objectos apanhados na praia não deixam de causar
espanto. Pauzinhos de cotonetes (porque as pessoas deitam nas sanitas). As
palhinhas. Os balões. "São coisas que não noz fazem realmente falta no
nosso dia a dia e são muito prejudiciais. Encontro centenas de bocados de
balões, porque rebentam ficam no chão, acabam por ir parar às sarjetas com a
chuva e daí para o mar." Bonecos pequenos. Patilhas dos protectores solares. Peças de lego. Flores artificiais. "Estas coisas podem parecer
bonitas mas são um manifesto", diz Ana Pêgo.
Toda a programação deste ciclo - que inclui exposições, espectáculos, oficinas e conversas (ver coluna ao lado) - foi concebida em
conjunto com a Estrutura de Missão para a Extensão da Plataforma Continental .
Só assim foi possível ter acesso não só às imagens do fundo do mar como também
à réplica do laboratório de campanha e ainda contar com a colaboração dos
vários especialistas nestas actividades. "Esta programação tem três eixos:
a educação ambiental, a ciência e a a criação artística", explica Madalena
Wallenstein, programadora da Fábrica das Artes.
Um dos melhores exemplos dessa interligação é a instalação
Terramar: a partir das imagens captadas pelo robot ROV, que vai até seis mil
metros de profundidade e tem feito campanhas ao longo da costa portuguesa, e
também imagens captadas por mergulhadores, a artista Graça Castanheira criou
"quadros vivos" que nos levam literalmente até ao fundo do mar.
Oportunidade para conhecer algumas espécies que habitam as profundezas, para
nos deliciarmos com imagens do oceano - e também para suspendermos um pouco a
nossa vida e deixarmo-nos levar, durante alguns minutos, pelo silêncio e pelo
embalo das ondas.
PROGRAMA
As portas do mar e Balaena plasticus
Rui Rebelo imaginou estes faróis, com a colaboração de Marco
Fonseca e Teresa Varela. As pessoas podem sentar-se, relaxar e ouvir os sons do
mar. E também ver a baleia feita de detritos de plástico encontrados na praia,
uma obra de Ana Pêgo e Luís Quinta, de 2014.
Jardim das Oli veiras, até 31 Julho
Terramar - instalação de Graça castanheira
A partir das muitas horas de imagens captadas pelo ROV Luso,
um robot que tem andado a mergulhar pelo mar português, Graça Castanheira criou
duas peças : um tríptico que nos leva para o fundo do mar e uma exposição com
"quadros vivos".
Fábrica das Artes, até 31 Julho
Oficinas de palavras, dança e ambiente
Durante este três meses, a Fábrica das Artes tem programadas
uma série de oficinas "à volta" do mar - para escolas mas também para
famílias, ao fim de semana. Por exemplo com a bióloga e escritora Judite Canha
Fernandes.
Fábrica das Artes, Maio e Junho
Um espectáculo: A menina do mar
Em 2011, Bernardo Sasseti e Beatriz Batarda fizeram uma
Menina do Mar. A partir da música original de Sasseti e da história de Sophia,
o pianista Filipe Raposo, a actriz Carla Galvão e a ilustraram Beatriz Bagulho
criaram este espectáculo
Pequeno Auditório, 19-25 maio
Ciclo de conversas com o mar ao fundo
A chef de cozinha Patrícia Borges, a peixeira Tânia Silva, o
investigador João Varela, os pilotos ROV Andreia Afonso e António Calado, o
mergulhador Nuno Rodrigues e o pescador António Figueira são alguns dos
palestrantes convidados
Jardim das Oliveiras, Maio- Julho
Concertos e contos no jardim
Rita Maria e Filipe Raposos trazem Canções da Terra e do Mar
(30 Junho), Rui Rebelo e Carla Galvão fazem um Concerto co Faróis (14 e 15 Julho). E mais sessões de estórias e de músicas, sempre ao ar livre.
Jardim das Oliveias, Junho-Julho
Fonte: DN
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