Pequena entrevista com Paulo Freitas:
Vice-Presidente do Sindicato XXI, que representa a maior fatia dos
trabalhadores portuários do maior Terminal do país – O Terminal
XXI em Sines
É de Sines ?
Sou 6ª Geração de Sines, a minha família já
cá anda no Concelho há muitas décadas. Tenho imenso orgulho de ser
de cá, de viver e sentir Sines.
Há já quanto tempo está na PSA Sines?
Há praticamente uma década. Na altura ainda só tínhamos 3 gruas. Era o início de tudo. Sentia-se que ainda
havia um longo caminho para percorrer. Ainda não se vislumbrava
minimamente o que temos hoje por cá. Mas todos os que estamos
praticamente desde do inicio, temos orgulho do que “criamos” por
cá.
Havia alguma perspectiva?
Perspectiva sempre existiu. Uma companhia
estrangeira (PSA) a investir forte em Sines, um cliente reputado ao
nível do melhor que há no mundo ( MSC ), tinha que existir
perspectivas positivas. Mas nem sempre foi fácil. Ainda houve um
longo caminho a percorrer.
Não foi fácil em que sentido ?
Não foi fácil no sentido de sermos poucos na
altura, apesar dos primeiros que vieram para a empresa já terem
muitos anos de estiva. Havia experiência de um lado e irreverência
por outro do lado do pessoal que entrou. Uma boa mistura. Fez-se
muita coisa que hoje em dia não se teria feito e catapultamos o
Terminal XXI para aquilo que se tornou hoje. O maior terminal do
país. Com níveis de produção altos, e trabalhadores com enorme
qualidade. Qualquer empresa teria orgulho em ter os activos que esta
empresa possui. Temos homens de garra que sabem o que custa trabalhar
num sector competitivo.
Entretanto o Terminal XXI cresceu muito mais.
Que pensa sobre essa ponte do passado e futuro ?
Cresceu em espaço, maquinaria, movimentação
e em trabalhadores. Cresceu rápido, e por ter crescido tão rápido,
a planificação prevista não foi acompanhando essa evolução tão
veloz, que acho que surpreendeu até a própria empresa. O
crescimento fez aumentar as necessidades, tanto de soluções, como
de novas caras. Mas sei o que o futuro é risonho, mas tem de se ir
mais ao encontro das expectativas que todos cá fora, no terreno
possuem.
Que expectativas essas?
Que fazem parte de um enorme projecto, que irá
ser ainda maior no longo prazo. Que iremos ter uma maior
redestribuição de tudo o que for conseguido. Só conseguindo essa
maior justiça no rácio ganho/produtividade é que seremos todos uma
empresa ainda maior. O nosso objectivo é a melhoria contínua de
todas as condições, sejam de trabalho, segurança ou
carreiras/progressões.
Quantos associados possuem? O que levou a
aderirem à Federação Nacional dos Sindicatos de Trabalhadores
Portuários?
Já estamos a caminho dos 600 associados. E
queremos atingir essa meta o mais rápido possível, porque a união
realmente faz a força. Queremos aumentar a nossa representatividade
e poder negocial, e isso só será possível com a força de todos.
Acredito que é possível e iremos fazer tudo para que tal se torne
uma realidade. A adesão à Federação aconteceu num momento
sensível entre nós Sindicato e a empresa. Mas já estava programada
há vários meses, foi no momento certo. A meu ver, quando concluímos
o processo de adesão, quebramos um certo isolamento que possuiamos.
E esta união, deixa-nos mais perto de outros colegas por todo o país
e para concretizarmos por objectivos comuns.
Que objectivos tem em mente ?
É obvio que a redução da idade de reforma
para os trabalhadores portuários e a sua inclusão nas profissões
de risco estão no topo da lista. O desgaste provocado pelos turnos,
pela profissão em si, merecia outro cuidado por parte de quem nos
governa. É imperativo que haja mais atenção para uma profissão
que no seu colectivo faz de facto mexer com a economia deste país.
Só o Porto de Sines já é equivalente a 2,5% do PIB. Ainda há um
caminho a percorrer, e acredito que não deveremos desistir dos
nossos objectivos.
Pensamentos sobre a greve que existiu no
Terminal XXI recentemente?
Foram momentos complicados e de conflito.
Permaneceu o bom senso após um braço-de-ferro tremendo. Houve
sempre tensão durante o período de duração da greve. No fim
venceram os trabalhadores, porque o esforço total vieram de todos
aqueles que se uniram e fizeram do sucesso da greve uma realidade.
Portaram-se todos lindamente e tenho orgulho em dizê-lo. Foram todos
de uma força extraordinária.
Que pensa sobre o Terminal Vasco da Gama ?
Relembro que já no anterior governo de José
Sócrates já se tinha falado nisso. E não se concretizou. Acredito
que possa existir interesse, mas acho que ainda está numa fase
embrionária e prematura. Mas considero um sinal positivo o
investimento da APS – Administração do Porto de Sines, no valor
de 88 milhões de euros para o aumento do molhe leste. Os projectos
que surgirem são da responsabilidade dos investidores, dos governos
e da administração portuária. Tudo o que vier para aumentar o
portfólio de Sines no sector portuário, com todas as condições de
projecção, investimento e impulsionamento serão sempre bem-vindos,
nunca esquecendo as condições de segurança, trabalho e laborais. É
esse “todo” que faz com que as coisas funcionem da melhor
maneira.
É Candidato à Câmara Municipal de Sines nas
próximas eleições? Que influência acha que um Presidente de
Câmara deveria ter no sector portuário?
Sou, e é um orgulho esse papel que foi
atribuido. Acredito que tem de manter um contacto sempre próximo,
não só com a Administração Portuária, mas igualmente com as
empresas que compõem esse importante cluster local. Sentir os
problemas, encaminhando sempre para os melhores caminhos, com
soluções à altura dos acontecimentos. Tem de existir uma enorme
sensibilidade para com as várias centenas de trabalhadores que por
lá trabalham no Porto de Sines. Acredito que tem de se ter
igualmente, um olho para o futuro, na captação de mais investimento
empresarial para a região. Com um Porto de Sines com as condições
que tem, com a internacionalização que já possui, chegando aos
cinco continentes, isso é uma mais valia, não só para as empresas
locais mas um sinal mais de atractividade para aquelas que veem Sines
como um ponto de aposta. Sines é o futuro do país, e acredito
plenamente não só na capacidade que temos para atrair e manter
esses investimentos, como os que já cá estão e utilizar o
potencial de uma população com muita capacidade de trabalho e de
produção para fazer existir este crescimento que tanto
necessitamos. Temos de apostar na sustentabilidade dos projectos,
porque tem de existir uma planificação de futuro e não somente no
curto prazo. Mas se acredito que deveremos ter mais empresas, mais
investimento e mais emprego, acredito que esse emprego tem de ser
bem remunerado, com condições de trabalho de qualidade. Não
acredito num capitalismo que esmaga as pessoas, mas acredito numa
ligação entre a valorização da empresa e dos seus trabalhadores,
como uma ligação forte de entreajuda. Será que há investidores e
empresários para dar o salto para uma melhor relação de futuro?
Em que haja um maior interesse nas pessoas e não somente nos
números? Quero acreditar que algum dia isso será possível na
globalidade das empresas e não só em algumas. Politicamente não é
uma questão de esquerda ou direita, mas sim de justiça e de aposta
certa nas pessoas. Vejo Sines como a Capital da Economia do Mar, e é
através desta visão que todos deveriam projectar o futuro deste
Concelho.
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