Que
o oceano Árctico está a ficar diferente já não é novidade. O que
agora é novo é que a parte leste do Árctico está a ficar cada vez
mais parecida com o oceano Atlântico. Ou seja, as camadas de água
na bacia euroasiática do Árctico estão a ficar menos densas,
permitindo a sua mistura com águas vindas do Atlântico, pelo menos
assim é relatado num artigo na revista Science da passada sexta-feira.
Na
última década, no Árctico houve uma perda recorde de gelo marítimo
durante o Verão. E, desde 2011, a bacia euroasiática ficou mesmo
quase sem gelo no final do Verão. Agora, a equipa do oceanógrafo
Igor Polyakov, do Centro de Investigação Internacional do Árctico
(Alasca), fez medições da espessura do gelo nesta região do oceano
entre 2013 e 2015 com vários sensores.
O
Árctico prolonga-se por 1800 quilómetros e é separado pela bacia
américo-asiática e pela bacia euroasiática. Foi nesta última que
os cientistas detectaram o que já tem sido designado por
“atlantificação” do Árctico. As águas da parte leste da bacia
euroasiática estão a perder a sua forte estratificação, o que
torna o aquecimento do Árctico muito mais fácil.
E
que factores estão a contribuir para esta “atlantificação” do
Árctico? De acordo com Igor Polyakov, há dois factores principais.
Primeiro, o facto de haver menos áreas de gelo no oceano, pois há
menos produção de gelo no Inverno. “A formação de gelo faz com
que a água doce do topo da coluna de água seja extraída para
formar o gelo, e o sal remanescente torna essa água à superfície
mais densa e pesada do que aquela que está por baixo”, explica o
investigador. “Estas águas à superfície têm-se misturado e isso
tem-se intensificado nos últimos anos.”
O
segundo factor tem a ver com a variação dos níveis de salinidade:
a uma profundidade entre os 50 e 150 metros ocorre, geralmente, uma
variação brusca na salinidade. Essa faixa é a haloclina. O que
agora se está a observar é uma redução na diferença de
salinidade, o que facilita a mistura entre as camadas de água e
permite que as águas do Atlântico cheguem ao Árctico.
Se a “atlantificação” do Árctico continuar, haverá cada vez menos gelo nesta região. Para minimizar estes efeitos, Igor Polyakov diz ao que é urgente combater o aquecimento global e reduzir as emissões de gases com efeito de estufa. Mas não será fácil. “Temos vindo a observar estas mudanças [a ‘atlantificação’] há já algum tempo, por isso é difícil fazer algo rapidamente que tenha um efeito imediato.”
Sete sítios a proteger
Também esta semana, a União Internacional para a Conservação da
Natureza (IUCN, sigla em inglês) divulgou um relatório em que
identifica sete lugares marinhos no Árctico para serem classificados
como Património Mundial da UNESCO. “O Árctico tem um papel
crucial na regulação do aquecimento global e alberga uma variedade
diferente de espécies, muitas delas em perigo”, afirma, em
comunicado, Carl Lundin, director dos programas marinhos e polares da
IUCN. “A Convenção do Património Mundial tem a grande
potencialidade para aumentar o reconhecimento e a protecção dos
habitats mais excepcionais da região.”
Os sete lugares incluem o Gelo Marinho Remanescente com Múltiplos
Anos e a Águas Polínias da Ecorregião Nordeste, que têm gelo
espesso e são um bom habitat para os ursos polares no século XXI. A
polínia é qualquer área de águas abertas no meio de um banco de
gelo (ou banquisa) ou de gelo fixo. Está também a Ecorregião do
Estreito de Bering, uma das maiores zonas de migração de aves e
mamíferos marinhos. A Ecorregião do Nordeste da Baía de Baffin,
que tem muitas espécies de aves marinhas, como a torda-anã.
Fonte: Público
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