Uma
área completamente desabitada que se insere na paisagem da ria
Formosa. Cidalisa Guerra falha-lhe destes dez quilómetros de sossego
e silêncio
Apanhar
o primeiro barco a partir do cais da Porta do Sol em Faro, rumar à
ilha Deserta e embarcar na aventura das surpresas que o dia tem para
oferecer é a melhor opção. Espera-nos uma ilha bem conservada e
pouco frequentada, raridade nas praias do Algarve. A Deserta é uma
área completamente desabitada que se insere na paisagem da ria
Formosa e convida à tranquilidade e ao descanso.São cerca de 10 quilómetros de sossego e silêncio onde tudo parece conjugar--se na perfeição. Ar, terra e mar enleiam--se numa dança lúdica perfeita. A viagem dura cerca de 40 minutos, tempo de absoluta observação. Comandado, por um outrora lobo do mar, reformado, o catamaran serpenteia por socalcos de areia a sair das águas que fazem da travessia um labirinto de areia e vasa da ria Formosa.
É um cenário surpreendente a entrada na ria. Aqui e ali, a realidade oferece--nos a visão de uma actividade piscatória sui generis. Há naquele trabalho do mar uma certa ruralidade. Homens e mulheres laboram curvados para a água como se trabalhassem a terra. O trajecto, que o olhar não consegue deixar indiferente, exibe variadas aves que por ali procuram o seu alimento, como os belos e elegantes flamingos.
O cordão formado pelas dunas mantém e preserva a vegetação original, conferindo-lhe a capacidade de abrigar fauna, sobretudo aves: andorinhas-do-mar, garajaus, borrelhos, chilretas ou gaivinas podem aqui nidificar longe dos predadores naturais.
A travessia vai desenhando a ideia de se entrar Algarve a dentro. Mas ao chegarmos à ilha, acontece o contrário parece ter-se saído do Algarve. É uma sensação de portal, como se fôssemos transportados para outra realidade.
Quando se fala numa ilha ocorrem-nos de imediato imagens de quietude, tranquilidade e fuga, no sentido de afastamento das nossas vivências do dia-a-dia. Ao acostarmos, os olhos viram-se e cravam-se de imediato numa praia mágica onde as areias abundam com a vontade do mar. O quotidiano, mais ou menos agitado, enigma maior da vida moderna, fica a partir do momento da chegada à ilha atrás das nossas costas como se de repente tudo se suspendesse num espaço de tempo que queremos que seja assim. É a mística da ilha! Os olhos abarcam apenas e tão-só o mar. A envolvência é perfeita.
Parece não se estar no Algarve. Ou pelo menos o Algarve das nossas férias, o Algarve do low-cost, de jovens que vêm, sobretudo pela oferta de agitação da vida nocturna, que se reflecte no aspecto que apresentam no dia seguinte na praia, do Algarve do glamour de Vilamoura ou das praias da moda. Este é um Algarve ainda quase selvagem, onde a mão do homem é pouco evidente. Passa por lá tenuemente. A natureza ainda é ali soberana. E Faro ficou na margem. No horizonte longínquo.
Um dia passado na Deserta, sim porque só é possível passar lá um dia de cada vez, faz-nos esquecer tudo; políticos, crise, desemprego. Quando sai da ilha o último barco, embarcam nele tudo e todos, deixando o areal fazer jus ao seu nome. É assim há 27 anos. É o Algarve por um dia.
Longe vão os tempos da humilde construção rústica e pioneira onde os raros visitantes podiam deliciar-se com maravilhosos pratos regionais à base de peixe, receitas que passaram de pais para filhos. A humilde tasca deu lugar a um restaurante de arquitectura cuidada, de madeira, bem inserida no contexto da ilha. Vista panorâmica sobre a costa, permite saborear a cozinha algarvia numa aventura gastronómica. O serviço é assegurado por jovens com formação adequada, que, com educação e informalidade, oferecem aos clientes um serviço personalizado. Será talvez por tudo isso que José Mourinho, muito recentemente, escolheu a ilha Deserta para passar um dia das suas férias com a família desfrutando a paisagem paradisíaca e confortando-se com um certamente opíparo almoço.
Do porto de embarque da Deserta é possível fazer um percurso pela natureza através de um passadiço de madeira, construído com sulipas de caminho de ferro. A ilha ganha força a nascente, configurando o Farol de Santa Maria, o extremo meridional de Portugal continental. Poder estar numa praia de areia branca, cheia de conchas, águas transparentes, quentes e tranquilas, com um areal a perder de vista, com muito poucas pessoas, faz deste lugar um paraíso escondido na Europa, um lugar que justifica a viagem. Ainda há lugares assim no Algarve.
Fonte: Ionline
Autora: Cidalisa Guerra
Foto: D.R
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