No cenário competitivo da logística global, Portugal tem um protagonista improvável: o Porto de Sines. Em 2024, esta infraestrutura alcançou o seu melhor desempenho de sempre no segmento contentorizado, movimentando 1,9 milhões de TEUs, uma subida de 16% face ao ano anterior, enquanto a maioria dos portos europeus enfrentava estagnação. Mas o segredo por trás deste sucesso não está apenas na localização ou na profundidade do cais.
Está, sobretudo, na competência dos seus trabalhadores portuários. Os estivadores ( e não operadores portuários), não são apenas mão de obra, são uma força especializada, produtiva e treinada ( sobretudo pelo contexto árduo de trabalho ), que garante o funcionamento preciso de um dos hubs logísticos mais eficientes da Europa.
Segundo o Container Port Performance Index 2021, elaborado pelo Banco Mundial e pela S&P Global, o Porto de Sines foi considerado o 3.º mais eficiente da Europa e o 30.º a nível mundial entre 370 portos. Tal classificação, que mede produtividade, tempo de escala e capacidade de resposta operacional, só é possível com uma força laboral preparada para operar em ambientes de elevada exigência. E aqui os estivadores brilham: com um conhecimento técnico, domínio das operações de carga e descarga e capacidade de coordenação, estes profissionais tornaram-se autênticos “especialistas” em logística portuária. A sua produtividade é notória, mesmo perante as adversidades. Cada operação é executada, mesmo em dias com vários navios em simultâneo. Em dias de pico de trabalho, cada estivador pode movimentar várias toneladas de carga por turno, operando sob pressão contínua. Estima-se que mais de 70% da balança comercial portuguesa passe por portos marítimos, com Sines a assumir mais de 50% da carga contentorizada do país.
Isto significa que o trabalho dos estivadores afecta directamente as cadeias de abastecimento de milhares de empresas, desde supermercados até indústrias pesadas. São os que asseguram que peças automóveis vindas da Ásia ou bens alimentares da América do Sul cheguem a tempo às linhas de produção ou aos centros de distribuição. A maioria das operações em Sines decorre com cadência quase mecânica, não porque sejam automáticas, mas porque os estivadores desenvolvem os processos com a respectiva competência. O trabalho é exigente: Envolve turnos prolongados, exposição às intempéries e manuseamento de equipamentos de elevada complexidade como gruas, RTG’s, reachstackers e emptystackers e veículos de transporte pesado ( Vulgos PM’s). Ainda assim, mantêm-se com níveis excelentes de fiabilidade.
Ao longo dos anos, os estivadores de Sines enfrentaram desafios estruturais, greves noutros portos ( e no próprio porto), períodos de instabilidade económica e condições extremas ( Como a Covid-19). Ainda assim, têm-se destacado pela resiliência e capacidade de manter o foco nos resultados.
“Os nossos homens e mulheres, conhecem a operação, trabalham arduamente, e conseguem trabalhar e fazer acontecer. A grande maioria tem orgulho no que fazem, são excelentes profissionais, não viram a cara à luta e deviam ser valorizados por tudo o que dão e já deram, foram o colectivo que fez do terminal o que ele é”, afirma um ex-dirigente sindical que acompanhou de perto a evolução da profissão no terminal..
“Temos orgulho no que fazemos. Somos parte do que move o país e a economia”, diz um já veterano no activo do porto, com mais de 20 anos de serviço. A frase, dita com simplicidade, carrega a consciência de quem vive o dia a dia no cais e sente, na pele, o peso e a responsabilidade. Acima de tudo, a experiência mostra que quando há motivação, reconhecimento e condições justas, a resposta é sempre positiva. Os dados operacionais confirmam que os momentos de maior coesão entre a gestão e os trabalhadores são também os de maior produtividade. Que quando existe motivação, respeito mútuo e o sentimento de pertença aumentam significativamente a eficácia nas operações e reduzem o número de falhas. Os estivadores não trabalham só por salário, trabalham com orgulho quando sentem que fazem parte de um todo que funciona. E é essa cultura de valorização que multiplica resultados. Não se trata apenas de mover contentores. Trata-se de compreender a lógica da operação portuária, antecipar necessidades, manter o fluxo e responder com rapidez. Com quase nenhuma reclamação por operação e tempos de manuseamento abaixo da média europeia, os estivadores de Sines colocam-se no patamar dos melhores.
A ligação ferroviária e os investimentos de expansão até 2028 — que elevarão a capacidade para 2,7 milhões de TEUs — abrem portas a uma presença ainda mais dominante no mercado europeu. Mas é inegável que nenhum plano será eficaz sem a mesma base: uma equipa humana robusta, produtiva e preparada. Em tempos em que tanto se fala de tecnologia, o caso do Porto de Sines lembra-nos de algo essencial: não há porto eficiente sem pessoas eficientes. E os estivadores de Sines são prova viva disso, não apenas pelas mãos que trabalham, mas pelo conhecimento que imprimem em cada operação. Porque no fim, por mais estatísticas e prémios internacionais que se acumulem, há algo que não se quantifica facilmente: O que é ser estivador.
Só quem veste a farda, enfrenta o cais de madrugada, lida com o peso das toneladas e a pressão, só quem trabalha no sector, sabe realmente o que este ofício exige. É uma profissão dura, mas digna, que exige não apenas força, mas cabeça, experiência, sangue-frio e sentido de responsabilidade. E é esse conhecimento vivido, silencioso e consistente, que sustenta diariamente a reputação do Porto de Sines como um dos mais eficientes da Europa.
Nota: Artigo original de Junho 2025

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