No passado dia 7 de Agosto, estivadores do porto de Génova, em Itália, travaram o carregamento de armamento num navio de bandeira saudita, o Bahri Yanbu, com destino a Israel. A embarcação, proveniente de Baltimore, nos Estados Unidos, tinha programado transportar equipamento militar fabricado pela empresa italiana Leonardo, incluindo um canhão Oto Melara, além de tanques e outros sistemas pesados já alinhados no cais. Durante uma inspecção nas primeiras horas do dia, os trabalhadores confirmaram que a carga incluía armas, munições, veículos blindados, explosivos e tanques, optando por bloquear o embarque. Cerca de quarenta trabalhadores chegaram a subir a bordo para documentar o conteúdo.
O episódio colocou a Autoridade Portuária numa posição delicada, levando-a a anunciar a intenção de avaliar, em Setembro, a criação de um observatório permanente sobre o tráfico de armas. Para os trabalhadores, a decisão foi justificada de forma clara: “Nós não trabalhamos para a guerra”.
Este não foi um caso isolado. Em Julho, no mesmo porto, foi recusado o descarregamento de material bélico com o mesmo destino, e, em Outubro de 2024, trabalhadores no porto grego de Pireu impediram o embarque de vinte e uma toneladas de munições com destino a Ashdod, na Palestina.
Estas acções chamam a atenção para um problema muitas vezes ignorado: a circulação de cargas militares por portos civis e o papel de quem as movimenta. Para além de questões políticas, levanta-se um debate sobre responsabilidade social, riscos para as comunidades portuárias e transparência no comércio internacional de armamento, um sector que, apesar da sua natureza sensível, continua a operar em grande medida fora do olhar público.
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