sábado, 23 de março de 2024

Opinião polémica: Aplicação da Energia Nuclear em navios Porta-Contentores


Fui desafiado a escrever sobre este tema polémico, e farei de acordo com pressupostos e factos, numa opinião livre e despreocupada.

O transporte marítimo global, todos os anos, utiliza mais de 300 milhões de toneladas de combustíveis, o que significa aproximadamente 3% das emissões globais de efeito de estufa.

Numas das reuniões de 2023 da IMO - Organização Marítima Internacional, houve entendimento duplicar as ambições de redução de carbono, estabelecendo uma meta de emissões líquidas zero para 2050. 

A indústria do Shipping entrou nos últimos anos, numa procura intensiva em soluções abrangentes, eficientes e acima de tudo, sustentáveis, para dar um contributo para a descarbonização, para além de acabar com dependência às flutuações e disponibilidade dos combustíveis tradicionais. A indústria tem explorado opções como amónia, baterias, hidrogênio, e opções ligadas às energia mais renováveis como solar e vento. Mas há uma opção que tem sido descartada, e que não tem sido investigada como opção, mas que tem um consenso cada vez mais crescente, nesta tecnologia de emissões zero que já explora os oceanos: a propulsão nuclear.

De acordo com esses analistas, a energia nuclear é realmente a única opção abundante, realista e verdadeiramente livre de carbono. Entre as opções mencionadas, há vários problemas: 

Por exemplo, combustível fóssil, a opção actual existente. Num navio comum o motor é de um tamanho de uma casa, ou seja muito espaço é ocupado por combustível. Para uma viagem entre China ( Xangai ) e os Países Baixos ( Amsterdão) , são utilizados cerca de 4.000 toneladas de combustível”, uma enormidade. 

Baterias: São um obstáculo obvio. Porque ? Um grande navio porta-contentores necessita de 3.000 megawatts-hora por dia. Para se ter noção, é a capacidade da maior bateria construída. Praticamente esgotava a sua capacidade em dia e meio. Não é comportável. 

A Amónia: É produzida por meio de um processo que utiliza muita energia. A produção de amónia renovável e isenta de carbono suficiente para o transporte marítimo, aproximadame  600 milhões de toneladas por ano, com electrolisadores que dividem as moléculas de água para produzir hidrogénio, iria usar 12 megawatts-hora por tonelada de amónia. Para a produção de 600 milhões de toneladas seria necessária quase três vezes a capacidade de produção de energia de toda a União Europeia.

Porque a opção nuclear?

Historicamente, a utilização da energia nuclear em conflitos, causou sempre um medo e receio na população mundial, para além de episódios em centrais nucleares de utilização não-militar como Chernobyl, ou mais recentemente Fumushima, que fazem com que se descartem este tipo de energia logo antecipadamente, sem ponderação alguma. Mas o que há a realçar nesta energia, aplicada na indústria do Shipping?

No que concerne às emissões: A energia nuclear não produz emissões de gases de efeito estufa durante a operação, contribuindo significativamente para a redução da poluição atmosférica e do aquecimento global, e para o objectivo de descarbonização.

Em matéria de eficiência energética: Os reactores nucleares oferecem uma fonte de energia altamente concentrada e eficiente, permitindo que os porta-contentores naveguem por longas distâncias sem a necessidade de reabastecimento frequente.

Na redução de custos: Embora os custos iniciais de construção e implementação de uma opção nuclear sejam significativos, os custos operacionais a longo prazo tendem a ser menores do que os de navios movidos a combustíveis fósseis, devido ao menor consumo de combustível e à maior vida útil do reactor.

Quais os desafios a ponderar?

Sobre a segurança: A segurança nuclear é uma preocupação primordial e requer medidas rigorosas de controlo e prevenção para evitar acidentes ou vazamentos radioactivos. A tecnologia actual está sem dúvida, mais preparada para ter essa segurança adicional

Gestão de Resíduos: O descarte seguro dos resíduos nucleares continua sendo um desafio importante e exige tecnologias avançadas de armazenamento e ttratamento. Esta é provavelmente,  a maior questão em relação a este tipo de tecnologia. Ultrapassar esta questão,  de uma forma inteligente e eficaz, é o garante de futuro da tecnologia.

Regulação e aceitação pública: A adopção da energia nuclear na indústria marítima enfrentará resistência política e pública devido a preocupações com segurança e proliferação nuclear, exigindo um rigoroso quadro regulatório e esforços contínuos de conscientização.

E se fosse implementada?

Uma implementação bem sucedida da energia nuclear em porta-contentores, iria exigir um esforço entre várias partes, seja pelos governos, pelo sector privado e pelas instituições dedicadas à pesquisa, para superar todos os desafios, ( que não são de factos, poucos). O aperfeiçoamento da tecnologia teria sempre ser uma prioridade máxima, pois afinal é o que transmite segurança a todos.

Podemos concluir, que este caminho é uma oportunidade que deve ser vista, dentro de uma visão mais extensa e estratégica, descartando pré-conceitos adquiridos que possam existir.

Dentro das opções, esta é a mais rápida para impulsionar a sustentabilidade e a eficiência no transporte marítimo global. Não se pode ignorar os benefícios ambientais, num primeiro patamar e os económicos no segundo patamar.

Finalizando este exercício de raciocínio, pese os prós e contras, este é o caminho com riscos, mas simultaneamente o mais rápido para se atingir metas de descarbonização num sector que possui objectivos difíceis e duros de concretizar. O objectivo não é incentivar este propósito, mas sim despertar o pensamento crítico.

Autor: Rui Carlos Pereira - Analista.

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