A portuguesa sagrou-se campeã mundial profissional de
bodyboard na Nazaré, juntando esta conquista à do europeu
Foi um triunfo digno de um filme de Hitchcock, com Joana
Schenker a ser eliminada nos quartos-de-final do Nazaré Pro, na praia do Norte,
pela concorrente directa ao título, Alexandra Rinder, hispano-germânica das
Canárias que já leva dois títulos mundiais. Mas a portuguesa viria a beneficiar
da posterior eliminação de Rinder e da brasileira Isabela Sousa, a outra
pretendente à coroa de campeã, na ronda seguinte, frente às japonesas Ayaka
Suzuki e Sari Ohhara, respectivamente. E sagrou-se campeã mundial de bodyboard.
Desfecho surpreendente mas que não poderia ser melhor para a
portuguesa que, assim, evitou levar a decisão do título mundial para as
Canárias, derradeira etapa do circuito e casa de Alexandra Rinder.
Com este feito, Joana inscreveu o seu nome na galeria do
desporto português numa categoria inédita: a dos campeões do mundo de desportos
de ondas. É certo que já houve quem carregasse esse título , mas
esta filha de alemães, nascida em Faro e baptizada para o bodyboard nas ondas de
Sagres, é a primeira cidadã portuguesa a vencer um circuito profissional de uma
modalidade de surfing.
"Sinto-me realizada. Era um sonho muito distante que se
tornou realidade, de repente, num mês. Mas fico muito feliz em trazer este
título mundial para Portugal. Porque este país já merecia, e por todo o carinho
e força que tenho recebido de toda a gente desde que surgiu esta possibilidade
do título", disse.
Este primeiro lugar de Joana é o ponto mais alto de um
percurso de domínio nacional e europeu da modalidade. Tetracampeã nacional e
tetracampeã europeia, o Mundial era o passo lógico mas que poucos se atreviam a
prever, apesar do quarto posto no circuito APB do ano passado.
Perspetiva que mudou radicalmente com o triunfo no Sintra
Portugal Pro, a etapa mais importante do ano, com uma premiação de 4000 pontos.
"Sintra abriu-me a porta para este cenário e foi aí que comecei a pensar
no título. Era um sonho, mas este ano não estava nos planos, que passava apenas
pelo top 8 mundial", confessou.
A praia do Norte marcou o culminar de uma viagem que começou
umas centenas de quilómetros a sul, em Sagres, onde os alemães Ute e George
escolheram fixar-se e criar as quatro filhas, encantados pela paz, o sol e o
mar da região algarvia.
Criança apaixonada pela natureza, ligação que a levou a
abraçar o vegetarianismo aos 10 anos depois de uma viagem à Índia, cedo Joana
se sentiu atraída pelo mar e pelo bodyboard, modalidade de ondas rainha na
região. "Sempre fui obcecada pelo mar. Era difícil viver ali e não o ser.
Todos os meus amigos faziam bodyboard, pelo que acabei por ser arrastada. E
depois foi uma paixão que ficou", recordou.
O sucesso competitivo demoraria a chegar, também enleado num
estatuto de cidadania dúbio. Joana competiu durante anos com a bandeira alemã e
viu um título nacional negado, em 2013, por ainda não ter B.I. português. Foi
uma dura chamada de atenção para Joana, que só então resolveu o processo, graças
à ajuda da Federação Portuguesa de Surf. Desde aí, não mais deu tréguas à
concorrência, sempre orientada por Francisco Pinheiro, o "companheiro,
treinador, psicólogo e tudo o que for preciso", carismático competidor
nacional tornado treinador que foi o primeiro a reconhecer em Joana o talento
que, ontem, a sagrou rainha do bodyboard mundial.
Fonte: DN
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