As
alterações climáticas abriram a Passagem do Noroeste e um grande
cruzeiro com cerca de 1700 pessoas a bordo já se fez ao mar... e aos
gelos. Há muitos críticos deste novo luxo
Já
atravessaram o estreito de Bering, e no último fim de semana
acostaram a Ulukhaktok. Esta pequena aldeia de Nunavut de 400
habitantes, no Alasca canadiano, marca, justamente, o início da
etapa mais ansiada - e também mais perigosa - da viagem do Crystal
Serenity, o primeiro grande navio de cruzeiros, com 13 andares e
capacidade para 1700 pessoas (incluindo mais de 650 tripulantes), que
se aventura no oceano Ártico através da rota Northwest Passage (a
Passagem do Noroeste), antes só acessível a quebra-gelos e navios
mais pequenos. A
nova rota é uma consequência do degelo oceânico naquela região
polar, causado pelas alterações climáticas. Mas esta viagem de
estreia do Crystal Serenity é tudo menos pacífica. Meticulosamente
preparado ao longo de três anos, o cruzeiro largou de Anchorage, no
Alasca, no dia 17 de agosto e tem chegada prevista a Nova Iorque, do
lado oposto da América do Norte, a 17 de setembro, depois de
atravessar todo o Ártico, tocar a Gronelândia, Boston e Newport, em
Rhode Island. Mas a etapa crucial, afinal o principal destino
deste cruzeiro que prometeu aos seus quase mil passageiros
avistamentos de ursos-polares, de morsas e de baleias, é a da
travessia da Passagem do Noroeste, que está agora a iniciar-se e
onde os perigos, sob a forma de gelos submersos ou eventuais
tempestades, são uma possibilidade muito real. Por mais seguro que o
Crystal Serenity seja, não é um navio construído com o objetivo de
fazer face aos gelos do Ártico. Por
isso, a preparação da viagem levou cerca de três anos e a empresa
proprietária do navio apostou tudo na segurança, incluindo no
aluguer de um pequeno quebra-gelos equipado com dois helicópteros,
que acompanha a navegação do princípio ao fim, para o que der e
vier. Há,
no entanto, quem critique a decisão de fazer este cruzeiro por
motivos de segurança, como o antigo comandante da marinha de costa
Robert Papp, actual representante especial dos Estados Unidos para o
Ártico, que à Radio Canada International (RCI) se mostrou
preocupado em relação à capacidade real de reacção a um acidente
com um navio que transporta 1500 passageiros, numa zona onde o
socorro é dificultado pelas suas condições extremas. E,
se a segurança é uma questão, não é a única. Na outra face da
moeda estão os problemas ambientais e o impacto que uma travessia
deste género pode causar numa região do planeta que até agora tem
estado salvaguardada das intromissões humanas pelas duras condições
que a caracterizam. Que impacto terá na vida selvagem local,
perguntam-se ambientalistas e cientistas, preocupados não apenas com
esta viagem em concreto, mas com as portas que ela pode abrir a
cruzeiros regulares na região. Está previsto, aliás, que o Crystal
Serenity repita o cruzeiro no verão de 2017. Um
dos cientistas que colocam a questão é Michael Byers, investigador
no Ártico e professor na Universidade de British Columbia. "Quando
penso na possibilidade de dezenas de grandes navios de cruzeiro virem
a atravessar o Ártico canadiano todos os verões, fico preocupado",
afirmou à RCI. "Preocupo-me, por exemplo, com o impacto de um
eventual derramamento de combustível, ou com os efeitos do ruído do
navio nos mamíferos marinhos, como as morsas ou as baleias",
sublinha, notando que os benefícios económicos deste tipo de
cruzeiros para pequenas comunidades humanas locais não são
relevantes. Outra
voz que se fez ouvir foi a da WWF, através de Elena Agarkova. Aquela
dirigente ambientalista analisou os possíveis impactos da viagem e
explica que o navio está obrigado, por exemplo, a fazer os seus
despejos de águas residuais a pelo menos 12 milhas náuticas ao
largo da costa, para evitar a poluição nas comunidades costeiras.
No entanto, afirma Agarkova, citada no jornal online irlandês The
Journal, "esta viagem é simbólica das mudanças rápidas no
Ártico, e não dispomos hoje dos regulamentos necessários para
reduzir os riscos [deste tipo de atividade] para a vida selvagem e as
comunidades humanas na região, nem a capacidade necessária para
responder a um eventual acidente". Menos
preocupados estarão os cerca de mil passageiros a bordo, que pagaram
entre 18 mil euros e 153 mil euros por cabeça, mais um seguro
obrigatório de 45 mil euros para poderem participar nesta viagem
inaugural. "Os bilhetes esgotaram em 48 horas", assegurou o
comandante do navio, o norueguês Birger Vorland, ao canal local KTVA
Alaska. Também para este homem do mar, que há três décadas
comanda navios de cruzeiro, esta é uma viagem muito especial, um
pouco como um tributo ao seu pioneiro compatriota, Roald Amundsen, o
primeiro que fez esta travessia, entre 1903 e 1906. Mas, nota, "nós
vamos fazê-la em 32 dias e com muito mais conforto". Fonte: DN
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