Imagine que está num terraço em Lisboa e envia uma mensagem de WhatsApp para um amigo que vive no Rio de Janeiro, no Brasil. O telemóvel dele apita em menos de um segundo. O recado foi à velocidade da luz. Parece que voou, mas, na verdade, foi a nado. Mergulhou no Atlântico. Mais de 99% das comunicações entre continentes são feitas através dos 900 mil quilómetros de cabos instalados debaixo do mar. Eles ajudaram a Internet a crescer e os preços das comunicações a baixar – na prática, ajudaram o mundo a encolher.
Terá sido mais ou menos isso que sentiram Vitória de Inglaterra e James Buchanan em Agosto de 1858, quando o primeiro cabo transatlântico fez um telegrama da Rainha chegar ao então Presidente dos Estados Unidos. A festa foi tão grande que houve fogo-de-artifício. E prejuízo – a câmara de Nova Iorque pegou fogo e o cabo avariou ao fim de 26 dias. Por essa altura, um cabo submarino suportava 48 chamadas internacionais em simultâneo e cada uma custava 3 dólares por minuto (21 euros hoje). Em 1866, quando se conseguiu assentar no fundo do mar um cabo mais durável, um telegrama custava 10 dólares por palavra (136 euros).
Feliz Natal ao tio do Brasil
Às 7h25 do dia 8 de Junho de 1870, o Rei D. Luís recebia, no Palácio da Ajuda, a primeira mensagem telegráfica da história de Portugal – a Rainha Vitória de Inglaterra felicitava-o pela ligação. Pouco depois, o Rei português enviaria uma mensagem de feliz Natal ao tio, o Imperador Pedro II do Brasil.
Três décadas depois, um cabo passou a poder suportar 7.560 conversas em simultâneo. No ano 2000, o SEA-ME-WE 4, que liga a Austrália, Ásia e Europa, transportava 40 GB (oito DVDs) de informação por segundo.
Hoje, os cabos mais modernos transportam 1.600 vezes mais. É esta rede que liga os arquipélagos dos Açores e da Madeira entre si e ao continente – o satélite é usado em situações de excepção (é muito mais caro). A estrutura é tão importante que não é raro ser objecto de discórdia.
Os cabos que chegam às ilhas são propriedade da Portugal Telecom – há anos que os operadores concorrentes se queixam dos preços cobrados pelo aluguer da rede. Na semana passada, a Anacom impôs uma redução de 50%. A dona da Meo não quis comentar o assunto.
E há desacordos de muito maior envergadura – alguns até metem espiões. Em 2013, o The Guardian noticiou que os serviços secretos do Reino Unido tinham acedido a vastos fluxos de informação pessoal e sensível (telefonemas, emails, histórico de navegação na Internet) transportada através de cabos submarinos e que a tinham partilhado com a Agência de Segurança Nacional norte-americana. Não foi uma estreia: durante a guerra fria, os norte-americanos também mergulharam até aos cabos para espiar os russos.
Fonte: Público
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