Quando em Abril deste ano, os Estados Unidos impuseram tarifas elevadíssimas de até 145 % sobre as importações provenientes da China esperava-se uma contracção abrupta no comércio global de contentores. Contudo quatro meses depois o cenário revelou-se bem diferente: em vez de uma queda drástica o sector demonstrou uma resiliência notável impulsionada sobretudo pela China. O país utilizou o seu excedente industrial para redireccionar exportações não apenas para os Estados Unidos mas também para a Europa a América Latina a Ásia e África ao mesmo tempo que a procura por contentores globalmente continuou a aumentar.
No segundo trimestre de 2025 o crescimento da procura global de contentores se situou entre os 3 % e os 5 % face ao período homólogo do ano anterior. A contracção nas importações norte-americanas foi largamente compensada pelo forte aumento de importações em regiões como a Europa a América Latina a Ásia Central Ocidental e África. Com isto as previsões de crescimento para 2025 foram revistas para cima situando-se agora entre os 2 % e os 4 % sendo o motor dessa expansão o robusto desempenho da produção industrial chinesa.
Assistimos a uma verdadeira aceleração da globalização: a China não cresce agora ao serviço de empresas ocidentais mas através das suas próprias empresas a operar globalmente numa vasta gama de sectores desde veículos eléctricos painéis solares turbinas eólicas até tecnologia móvel. Este fenómeno reflecte uma profunda transformação na estrutura do comércio mundial: apesar de se falar de desglobalização os números indicam precisamente o contrário uma intensificação global impulsionada por um sucesso comercial chinês cada vez mais autónomo.
O desafio agora concentra-se no quarto trimestre de 2025. O desfecho entre um crescimento global entre 2 % ou 4 % dependerá sobretudo de se a China mantiver o ritmo elevado da sua produção industrial ou se esta vier a arrefecer nos próximos meses. Se o ritmo se mantiver o papel da China como motor do transporte marítimo de contentores poderá consolidar-se ainda mais demonstrando até que ponto os efeitos das tarifas norte-americanas na competitividade chinesa foram afinal limitados.
No curto e médio prazo o comércio global está a ser redireccionado não reduzido e as companhias de navegação como por exemplo, a Maersk, adaptam-se rapidamente a este novo padrão. Contudo a longo prazo esta mudança significativa na geografia dos fluxos comerciais poderá levar alguns países a implementar medidas proteccionistas em resposta ao avanço chinês.