sexta-feira, 29 de agosto de 2025

Política tarifária dos EUA não trava domínio da China no tráfego portuário mundial


O peso da China na indústria portuária global continua a crescer, apesar da política tarifária aplicada pelos Estados Unidos, que impôs taxas que chegaram a 145% nos primeiros meses do ano. Os dez maiores portos chineses foram responsáveis por 54% do movimento de contentores nos 30 maiores portos do mundo até Junho, com um total de 128,6 milhões de TEUs, reforçando a sua posição em mais dois décimos de ponto percentual.

No conjunto, as instalações portuárias chinesas movimentaram 170 milhões de TEUs no primeiro semestre, um aumento de 6,9% em relação ao mesmo período do ano anterior — o maior volume já registado entre Janeiro e Junho. Mesmo com a quebra das exportações para os Estados Unidos, a China conseguiu compensar com maiores fluxos comerciais para a União Europeia, o Sudeste Asiático, a África e a América Latina. Shenzhen, o quarto maior porto do mundo, foi um dos destaques, crescendo 10,8% para 17,2 milhões de TEUs. Xangai manteve o ritmo de crescimento estável, enquanto Qingdao e Guangzhou apresentaram acelerações no segundo trimestre.

Apesar das tensões comerciais, o movimento global também registou evolução positiva. Entre os 30 maiores portos do mundo, o tráfego aumentou 4,6% até Junho. Hamburgo, terceiro maior porto europeu, foi um dos que mais beneficiaram, com uma subida de 9,3% após anos de declínio. Os portos da Índia também se destacaram, apoiados por novas alianças operacionais, nomeadamente Nhava Sheva, que cresceu 15,2% após a expansão do seu terminal de contentores, e Mundra, que ultrapassou os 45% do tráfego nacional de caixas.

Na Ásia, o porto malaio de Tanjung Pelepas foi o que mais cresceu percentualmente no primeiro semestre (+15,4%), tornando-se um hub estratégico nas rotas entre o Extremo Oriente e a Europa. Em contraste, o Porto Kelang, também na Malásia, registou apenas 2,9% de crescimento.

Nos Estados Unidos, a costa Oeste recuperou protagonismo. O complexo portuário de Los Angeles/Long Beach movimentou 9,7 milhões de TEUs até Junho, uma subida de 7,5% e o melhor desempenho desde 2022. Já a aliança Nova Iorque/Nova Jérsia registou um crescimento mais moderado, de 5%, para 4,4 milhões de TEUs. A pressão sobre a costa Leste deveu-se, em parte, à instabilidade no Mar Vermelho, que levou armadores a reorientar fluxos para rotas alternativas.

Entre os 30 maiores portos, apenas dois registaram quedas de tráfego: Hong Kong, que continua em declínio e perdeu quatro posições no ranking, e outra instalação com recuo residual. A descida de Hong Kong permitiu que o complexo belga Antuérpia-Bruges subisse pela primeira vez acima do antigo entreposto asiático.

De forma geral, o transporte marítimo de contentores mostra sinais de resiliência, com destaque para a crescente centralidade da China, que mantém o seu domínio global mesmo em cenário de guerra tarifária.

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