sábado, 18 de abril de 2020

A Pandemia do Covid-19 e a Indústria do Shipping


Quando ouvimos pela primeira vez do coronavírus, que provoca a doença classificada como Covid-19, em meados de dezembro passado, longe estaríamos de saber o impacto e os estragos que iria causar no transporte marítimo, num sector competitivo e em constantes batalhas contra as dificuldades. A rápida propagação do vírus bem como a falta de preparação do sector e já agora do mundo, fez com que houvesse a necessidade de implementação de medidas, fosse por parte das companhias de navegação ou pelos diversos portos, medidas essas que causou dificuldades adicionais. Estes factores em conjunção com as iniciativas dos vários governos, na tentativa de aplicar medidas duras, com sérios impactos na economia, o que começou a reflectir-se na diminuição do crescimento económico, e com uma economia bloqueada, a necessidade de mercadorias diminui, e dessa forma a movimentação de mercadorias, sendo o sector marítimo o principal afectado. De certa forma uma crise de saúde pública veio juntar-se a uma já longa guerra comercial entre a China e os EUA, que obrigou o sector a ter de adaptar-se a esse desafio, tal como está a fazer agora com a situação actual. As consequências directas da pandemia da Covid-19, já está a ter um impacto significativo no sector do shipping, e a pressão começa a acumular-se de forma preocupante. De acordo com os dados estatísticos, cerca de 80% do comércio mundial é feito por via marítima, e o país do epicentro do coronavírus possui só por si mesmo, 7 portos no Top 10 mundial. E isso por si só, deu logo as respectivas repercussões, como se pode comprovar, na redução do número de navios a fazer escala em portos chineses. O porto de Xangai por exemplo, teve uma queda abrupta de 17% em Janeiro, quando comparado com o mesmo período do ano passado. O efeito tipo dominó, fez com que outros portos caíssem também, e só no principal concorrente dos portos chineses, nos EUA, o porto de Los Angeles teve uma queda de 25% em Fevereiro, em comparação com período transacto, depois do efeito de declínio da China se começar a sentir. Nunca ouviu aquela velha frase, "Quando a China espirra, o mundo se constipa?", pois foi exactamente isso que sucedeu. Esta convulsão global de acontecimentos, a já mencionada guerra comercial entre os EUA e a China, o processo do Brexit, que já andava a prejudicar o crescimento, já alertava para para eventuais problemas no crescimento. Esta crise de 2020, é bastante diferente daquela de 2008-2009, que foi consequência de uma crise económica e financeira que abalou a economia do final de 2008, e que teve como resultado o maior declínio das trocas comerciais em mais de 70 anos e que levou que no ano seguinte houvesse mais de 1000 navios vendidos para abate. 
Nos portos nacionais, o efeito também já sentiu no inicio do ano, com uma queda de 9,7% só em Janeiro a nível global e de 16,2% só no sector contentorizado. O shipping é feito de ciclos. É um sector que possui diversos ciclos na linha do tempo. Se no ciclo anterior, houve mudanças, também acredito que irá existir mudanças dentro do panorama actual. Não há dúvidas de que o prolongar das incertezas sobre o ultrapassar da pandemia irá agravar os problemas que já existiam, e isso irá afectar as indústrias que dependem deste sector para a sua própria saúde financeira. Pode aprender-se muitas lições com os ciclos baixos do passado. Mas isso não vai só depender das empresas. Vai depender também da acção dos seus governos. Há que salvar a economia, e por consequente o tecido empresarial, que emprega muitas pessoas, do qual as respectivas famílias dependem. Não é tempo de empréstimos que são encargos futuros que irão dificultar não agora, mas mais à frente, na altura de voltar a recuperar. É preciso injectar dinheiro na economia, não para a salvar, mas para atenuar o choque que todos tivemos desde do mês passado. E o tempo não espera. Cada adiamento, cada decisão tardia tem os seus custos. Esperemos que o ponto de retorno seja um "V", ou seja queda rápida seguida de uma igual recuperação. Que assim seja. 

Por Paulo Freitas.

Sem comentários:

Enviar um comentário

Proposta para fim de greve dos pilotos de barra e portos é "insuficiente"

  Segundo afirmou à Lusa Eduardo Chagas, dirigente da estrutura sindical, as administrações fizeram uma proposta oral, que irá agora ser deb...