O meio
marinho é um elemento indispensável à vida na Terra, importante
fonte do oxigénio que respiramos, e com um papel determinante no
clima. É também um ativo precioso, uma importante fonte de
prosperidade económica, bem-estar social e qualidade de vida.
Após
ratificação (1997) da Convenção das Nações Unidas sobre o
Direito do Mar, que estabeleceu um novo quadro jurídico para a
delimitação do mar territorial, da plataforma continental e ZEE,
Portugal assumiu responsabilidades numa das áreas marítimas mais
extensas da Europa, e a maior da União Europeia, com uma dimensão
18 vezes superior ao seu território nacional.
Na
atual situação de escassez, desalento, descrença e de futuro
incerto que o nosso país enfrenta, decorrente de um desequilíbrio
das contas públicas e de uma crise de financiamento, que tem
impedido o crescimento económico, a posição geostratégica do
espaço marítimo sob soberania nacional pode e deve ser um fator
diferenciador do país.
Uma
leitura do relatório O
Hypercluster da Economia do Mar,
elaborado pela SAER (Sociedade de Avaliação Estratégica e Risco),
em 2009, alertava decisores políticos e económicos para a falta de
visão de futuro e de estratégia a prazo, no sentido de tirar o
máximo partido das excelentes condições e potencialidades com que
a Natureza nos contemplou.
É
notório o fosso existente entre tanta extensão deste recurso, e sua
privilegiada localização estratégica, e a fragilidade da sua atual
exploração. O potencial de oportunidades de
desenvolvimento económico que o meio marinho engloba, enquanto base
de atividades da mais diversa natureza como pesca, prospeção e
exploração de recursos geológicos, biotecnologia, produção de
energia, turismo, desportos náuticos, entre outras, permite
desenvolver uma economia marítima próspera e deixarmos de ser um
país eternamente adiado.
Se o
mar deve ser um desígnio nacional, como se ouve e lê, não pode
viver de mandatos a prazo (leia-se legislaturas). Deve ser formulada
uma política marítima abrangente, ambientalmente sustentável,
apoiada na investigação científica marinha, tecnologia e inovação.
Esta política marítima tem de ser consensual (ou então não vale a
pena), entre os partidos políticos, em especial entre os que fazem
parte do arco governativo.
Portugal,
país com longa tradição marítima, tem múltiplas razões
económicas e sociais para continuar a considerar o mar como setor
prioritário. Outras existem, como a tradição histórica e as
condicionantes que forçaram Portugal a lançar-se, com grande
coragem e empreendedorismo, na aventura das descobertas, no séc. XV.
Na cultura portuguesa, o mar é uma parcela do património da
identidade e da dignidade histórica nacional.
Integração
europeia, fundos estruturais e a cicatriz ainda mal curada da
colonização (ligada ao mar e ao passado) conduziram ao desinteresse
pelo mar.
Naturalmente,
sem nos desligarmos da Europa, o país necessita de tirar proveito de
toda esta riqueza desperdiçada. Mais vale tarde do que nunca.
Docente
da Faculdade de Economia e Gestão da Universidade Católica
Portuguesa, no Porto. A autora escreve segundo o Acordo Ortográfico
Fonte:
Público
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