Durante anos, a modernização dos portos portugueses foi apresentada como prioridade estratégica, mas a realidade mostrou-se bem diferente. Apesar de sucessivos anúncios e planos ambiciosos, o governo anterior deixou por fazer a parte mais crítica: garantir acessos ferroviários eficientes e eletrificados que integrassem os portos nas redes europeias de transporte. Essa inércia resultou em portos modernos no cais, mas antiquados na ligação ao hinterland.
Entre 2015 e 2023, o Ferrovia 2020, concebido para transformar a rede e ligar os principais portos a corredores internacionais, sofreu adiamentos, cortes e redefinições constantes. Projetos essenciais, como o eixo Sines–Caia e a ligação de Leixões à Galiza, avançaram lentamente, enquanto outros ficaram presos em estudos e concursos cancelados. O Porto de Sines, por exemplo, conseguiu atrair novos serviços e aumentar o movimento de contentores, mas manteve-se dependente do transporte rodoviário para a maior parte da carga. Leixões, apesar da expansão aprovada para o terminal de contentores, continua sem ver arrancar as obras ferroviárias prometidas há anos. Setúbal, com crescimento reconhecido no transporte por comboio, não recebeu o reforço estrutural de acessos que poderia consolidar essa vantagem.
O padrão repetiu-se: grandes planos estratégicos, como o “Portugal Logístico” e sucessivas versões do Plano Nacional de Investimentos, funcionaram mais como vitrines políticas do que como programas de execução real. Na prática, pouco se avançou em eletrificação, interoperabilidade e compatibilidade com a bitola europeia, elementos fundamentais para competir nos corredores atlânticos e mediterrânicos. Enquanto países vizinhos aceleravam, Portugal ficava preso a um calendário político, em vez de um calendário logístico.
O atual governo herdou este cenário fragmentado e tenta recuperar o tempo perdido, com dotações reforçadas para acessos ferroviários em Aveiro, Setúbal e Sines e prazos mais apertados para concluir obras estruturantes. No entanto, não é possível compensar uma década de atraso em poucos anos. As dificuldades de execução, as burocracias herdadas e as prioridades mal definidas continuam a pesar sobre qualquer tentativa de integração real.
No fundo, a história recente dos portos portugueses mostra como decisões políticas tímidas e atrasos estratégicos podem comprometer a competitividade de toda uma economia. Para que Portugal consiga afirmar-se como plataforma logística de referência, será preciso finalmente fazer o que ficou por fazer: ligar portos e ferrovia de forma contínua, eficiente e moderna, substituindo promessas por resultados concretos.
Sem comentários:
Enviar um comentário