As importações marítimas de contentores provenientes da China para os Estados Unidos registaram em Maio de 2025 o seu nível mais baixo dos últimos quatro anos.
A quebra foi de 28,5% face ao mesmo mês do ano anterior, reflexo directo do impacto das novas tarifas comerciais impostas por Washington. O total de contentores importados pelos EUA caiu 7,2%, cifrando-se em cerca de 2,18 milhões de TEUs, segundo dados divulgados por múltiplas fontes internacionais do sector marítimo. O impacto foi particularmente visível nos portos da Costa Oeste dos Estados Unidos. Em Los Angeles, a queda foi de 18,4%, enquanto Long Beach recuou 22,4%. No conjunto, os portos da Costa Oeste norte-americana perderam 10,7% do seu volume de contentores em Maio. A origem desta descida está nas tarifas aduaneiras extraordinárias de até 145% impostas pelo governo norte-americano em Abril, que visam penalizar importações provenientes da China.
Este endurecimento da política comercial provocou inicialmente um aumento de envios em Abril (fenómeno conhecido por front-loading), seguido por um colapso das importações em Maio. Como resposta a esta situação, foi negociada uma trégua tarifária de 90 dias, reduzindo temporariamente as taxas para 30%. Apesar disso, os efeitos do endurecimento tarifário continuam a sentir-se nas cadeias logísticas e na estrutura do comércio marítimo. A quota de mercado da China nas importações de contentores dos EUA desceu para 29,3%, o nível mais baixo em dois anos. No mês de Junho, apesar de se verificar uma ligeira retoma, a participação chinesa no mercado de contentores norte-americano manteve-se baixa, rondando os 28,8% — valor não registado desde há quatro anos.
As consequências desta quebra não se limitaram aos volumes portuários. As cadeias de abastecimento estão em reconfiguração, com várias empresas norte-americanas a procurarem alternativas de fornecimento na Ásia, nomeadamente no Vietname, na Índia e na Tailândia. Esta diversificação geográfica visa mitigar o risco de dependência da China e reduzir o impacto futuro de tarifas ou de tensões geopolíticas. A nível interno, os Estados Unidos enfrentam o risco de escassez de produtos e o aumento dos preços ao consumidor. Especialistas alertam para o aumento dos chamados blank sailings — escalas portuárias canceladas em que os navios navegam vazios —, fenómeno que cresceu 13% desde Abril e poderá atingir 28% até ao final do Verão. Este cenário agrava a incerteza quanto à estabilidade do fornecimento de bens e coloca pressão adicional sobre operadores logísticos e distribuidores.
A consultora Drewry prevê que o volume global de contentores poderá cair 1% em 2025, o que representaria apenas a terceira contracção anual desde 1979. Este recuo deverá reflectir-se sobretudo nas rotas transpacíficas, tradicionalmente dominadas pelas exportações chinesas para os Estados Unidos. A incerteza permanece elevada, com novos ajustamentos tarifários previstos para Julho e Agosto, e com a possível revisão do regime fiscal de minimis, que actualmente permite a entrada de pequenas encomendas sem taxas adicionais. Este conjunto de factores coloca em destaque a necessidade urgente de estratégias de adaptação por parte dos portos, das autoridades alfandegárias e dos operadores logísticos.
A diversificação de rotas, o reforço de infra-estruturas portuárias e a agilização de processos aduaneiros serão decisivos para mitigar os efeitos desta nova fase de tensão comercial sino-americana. O sector portuário internacional permanece atento às próximas decisões políticas que poderão redefinir os fluxos comerciais globais nos meses que se seguem.
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