A
microalga foi isolada a partir de águas costeiras do Algarve
provenientes da Ria Formosa, e pode também ter aplicação no
tratamento de águas residuais
Investigadores
do Centro de Ciências do Mar (CCMAR) da Universidade do Algarve
(UAlg) isolaram uma microalga de águas da Ria Formosa que pode ser
usada na indústria alimentar e na produção de biodiesel, informou ontem um participante no projecto.
João
Varela é um dos três investigadores que fizeram este trabalho e
explicou à agência Lusa que a microalga foi isolada em ambiente
laboratorial, a partir de águas costeiras do Algarve provenientes da
Ria Formosa, e pode também ter aplicação no tratamento de águas
residuais.
O
investigador do CCMAR contou que a microalga foi encontrada através
da utilização de uma técnica normalmente utilizada na medicina e
que "permite pesquisar milhares e milhares de células em
questões de minutos por uma determinada característica", que
neste caso foi a de ser "rica em bio-óleos, normalmente
chamados de lípidos".
"Esta
microalga mostrou, através de processos de microscopia, que produz
realmente grandes quantidades de lípidos, sintetizámos também
biodiesel e verificámos que a qualidade desse biodiesel é bastante
superior ao da maioria das microalgas que actualmente são utilizadas
comercialmente", afirmou João Varela.
O
investigador da UAlg disse que as microalgas comerciais, "normalmente
utilizadas na aquacultura", precisam de grandes quantidades de
ácidos gordos polinsaturados, mas frisou que isso "não é bom
para o biodiesel, porque o biodiesel não pode ser instável a nível
de presença de oxigénio", factores que causam maior
probabilidade de oxidação.
"O
biodiesel tem de ser estável e não pode ser oxidado na presença de
ar", acrescentou, frisando que se procura neste caso microalgas
"com menor probabilidade de sofrer oxidação" e a que foi
isolada tem "uma estabilidade bastante superior às microalgas
que existem actualmente na indústria".
O
próximo passo é, adiantou João Varela, "tentar adaptá-la
para uso industrial", num trabalho de parceria com a
"recentemente inaugurada Unidade de Produção de Microalgas
(Algafarm), considerada como o maior conjunto de fotobiorreatores em
sistema fechado da Europa" e que surgiu de um investimento de 15
milhões de euros realizado pela cimenteira Secil, para "desenvolver
tecnologias de mitigação do impacto da libertação de CO2,
decorrente da sua actividade".
João
Varela alertou, ainda, para o facto de actualmente "não
existirem métodos de produção de microalgas que permitam competir
com o petrodiesel" e, por isso, é importante encontrar outras
aplicações distintas para a microalga isolada.
O
investigador apontou "a produção de rações ou alimentos
inovadores para consumo humano" como outras formas de valorizar
a microalga isolada e deu como exemplos a aplicação que já é
feita de outras microalgas "em bolos, pastéis de bacalhau ou,
até, produtos como suplementos alimentares".
O
investigador revelou, ainda, que a microalga em causa já foi testada
em efluentes de Estações de Tratamento de Águas Residuais (ETAR) e
revelou ter "robustez suficiente e necessária não só para
crescer nessas condições, como para tratar águas residuais que,
com os processos normais, não se conseguem tratar".
"A
microalga não é sensível a antibióticos que, devido ao consumo
humano, vão parar às águas residuais e matam as bactérias"
normalmente utilizadas para fazer o tratamento desses efluentes,
precisou.
Fonte: DN
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