Durante recente visita que efectuei ao porto de FOS tive oportunidade de conhecer pela primeira vez um porto pensado para as próximas centenas de anos.

Marselha é uma cidade portuária localizada no sul de França, cujo porto nasceu colado à cidade, que o foi abraçando. 

As atividades marítimo-turísticas, náutica de recreio, ferries para o Norte de África e ilhas, o transporte de passageiros, a cultura e o lazer e os cruzeiros foram florescendo no porto durante o século passado. 

Desde os anos 60 e 70 que a atividade portuária de movimentação de cargas foi sendo deslocalizada propositadamente, pela autoridade portuária de Marselha, para um porto a cerca de 60km por estrada, o porto de FOS.

Primeiro foram deslocalizados os movimentos de graneis líquidos, em especial combustíveis nos anos 60, tendo depois, nos anos 70, começado a ser deslocalizados os terminais de carga geral e graneis secos. 

Mais recentemente, nas últimas décadas, foram construídos dois grandes e modernos terminais de contentores de águas profundas (16m) com 2km de cais e múltiplos pórticos, concessionados a diversas empresas operadoras portuárias e armadoras (MSC e Cosco, CMA CGM e DP World), que estão em concorrência e nem têm os preços máximos controlados, apesar de serem concessões de serviço público. 

Recentemente, foi concessionado um terceiro terminal à Hutchison, um grande operador mundial de terminais de contentores de Hong Kong, que começará em breve a ser construído.

O porto possui uma área com cerca de 10 mil hectares. Sim 10 mil hectares, uma área equivalente à de Paris, segundo os técnicos do porto. São de facto áreas a perder de vista de expansão, em parte já ocupadas com terminais de todos os tipos, unidades industriais diversas e uma grande área logística em zona franca e área intermodal com a ferrovia.

O porto movimenta 86 milhões de toneladas de carga por ano, mais que Portugal inteiro. 

56 milhões de graneis líquidos, 12 milhões de toneladas de graneis sólidos, minérios, carvão e cereais. 

E 17 milhões de toneladas de carga geral, entre carros, contentores e outra carga fraccionada. Movimenta hoje 1 milhão de TEU de carga de hinterland que cobre todo o sul da França, pois não consegue servir Paris, essencialmente servido por Antuérpia e em pequena parte por Le Havre. O porto de Fos foi escolhido pelo grupo P3 para ser um porto de escala e prevê movimentar muitos contentores no futuro com os novos terminais da DP/CMA, MSC/Cosco e da Hutchison.

Espaço, espaço, espaço para mais e mais terminais e industrias, atividades logísticas e ligações ferroviárias, com feixes e feixes intermodais, a apenas 60 km de Marselha. 

Este porto é muito importante na região e tem o potencial para crescer mais. O pequeno terminal de contentores de 200 mil TEU ainda implantado no porto de Marselha deverá finalmente ser transferido para FOS em breve, o que deixa os estivadores bastante apreensivos. 

Referem que são insignificantes os custos de transporte terrestre, pois a alternativa seria não poder crescer mais o movimento de cargas e não poder ter terminais de contentores modernos em crescimento e com elevada produtividade a receber navios de última geração, não poder crescer nos cruzeiros e na náutica, o que não faz qualquer sentido.

Marselha é este ano capital da cultura e foi erguido um belíssimo pavilhão à beira mar para o efeito, um novo Museu.

De acordo com os técnicos, a defesa dos interesses da França obrigaram a este plano racional de mudança consensual, implementado de forma gradual. E está já a dar os seus frutos, tendo o porto ficado mais eficiente e produtivo, com operadores globais, em expansão e a alargar o seu hinterland cada vez mais por comboio ao norte de França.