Petição online pede que o icónico navio seja classificado como património nacional francês. Desentendimentos entre a família e o estaleiro onde estava a ser reparado deixaram o navio num impasse.
O Calypso é
indissociável do nome de Jacques-Yves Cousteau, explorador francês,
inventor, realizador de documentários sobre os oceanos, divulgador
da vida marinha. Com aquele navio, Cousteau iniciou as aventuras
pelos oceanos que os tornaram aos dois famosos. Mas agora, 16 anos
depois da morte de Cousteau, o Calypso definha num
estaleiro em Concarneau, França, pelo que uma
petição online pretende que seja classificado como
património nacional francês.
A
petição partiu de um oceanógrafo e mergulhador científico francês
Bruno Bombled, cujas odisseias submarinas de Cousteau, que passavam
na televisão quando era criança, o puseram a sonhar. Ainda hoje se
sente “um filho” do Calypso,
por isso lançou a petição online,
em que se pede à ministra da Cultura e da Comunicação francesa,
Aurélie Filippetti, para que salve o navio.
“Hoje,
está a apodrecer em Concarneau…o que é um escândalo”, diz a
petição, que conta com mais de 9500 assinaturas, e defende a
classificação do navio como património nacional francês por ter
feito “avançar a ciência e as consciências em França e pelo
mundo”.
Este
triste presente do Calypso começou
a ser traçado em 1996, um ano antes da morte de Cousteau: no porto
de Singapura, foi abalroado por uma barcaça e, com danos graves,
afundou-se. “Gostaria que o Calypso continuasse
ao serviço da ciência e da educação”, disse então Cousteau.
O
navio regressou a França e daí foi rebocado, apenas em 2007, para o
porto de Concarneau, onde nos estaleiros Piriou seria restaurado.
Numa primeira fase, foi o conflito entre Francine Cousteau, a segunda
mulher de Cousteau, e os filhos dele que atrasaram a reparação, com
a disputa pela posse do navio no centro da discórdia. Mas desde o
início de 2009, o desentendimento entre os estaleiros e a Equipa
Cousteau (organização para a protecção dos oceanos com sede em
França, presidida por Francine Cousteau), relacionado com os
pagamentos, esteve na origem da paragem das obras. No ano seguinte,
a Equipa
Cousteau pediu
ao Ministério da Cultura francês a classificação do navio.
“Mas
porquê preservar os navios?”, pergunta-se na petição.
“Porque os navios têm uma alma, porque fazem parte da grande
história do homem”, lê-se. “Eles são a própria imagem da
solidariedade, do trabalho colectivo, do caminho comum… sem a união
dos homens, não vai a nenhuma parte.”
A
história gloriosa do Calypso começou
nos anos de 1950. Draga-minas da Grã-Bretanha durante a II Guerra
Mundial, transformado depois em ferry,
Cousteau descobriu-o em Malta e achou que era perfeito para as suas
odisseias. Um milionário irlandês, Loel Guinness, comprou-o e
alugou-o em 1950 ao explorador francês por um valor simbólico,
tornando possíveis os seus sonhos (depois do naufrágio em
Singapura, o neto e herdeiro de Loel Guinness vendeu-o à Equipa
Cousteau por um franco).
O
mundo subaquático nos ecrãs
Transformado em navio oceanográfico – e com direito a uma câmara de observação subaquática na proa, composta por oito vigias –, a aventura a sério começava em 1951, dirigindo-se o Calypso para o Mar Vermelho, para estudar corais. Em 1954, iniciava-se uma grande expedição ao Mediterrâneo, Golfo Pérsico, Mar Vermelho e Índico, que esteve na base do documentário O Mundo Silencioso, vencedor da Palma de Ouro de Cannes e de um Óscar. Era a primeira longa-metragem a cores do mundo subaquático.
Transformado em navio oceanográfico – e com direito a uma câmara de observação subaquática na proa, composta por oito vigias –, a aventura a sério começava em 1951, dirigindo-se o Calypso para o Mar Vermelho, para estudar corais. Em 1954, iniciava-se uma grande expedição ao Mediterrâneo, Golfo Pérsico, Mar Vermelho e Índico, que esteve na base do documentário O Mundo Silencioso, vencedor da Palma de Ouro de Cannes e de um Óscar. Era a primeira longa-metragem a cores do mundo subaquático.
Em
1964, o documentário O
Mundo sem Sol,
que relatava a vida de seis aquanautas durante um mês numa casa
construída no Mar Vermelho, a 100 metros de profundidade, também
ganhou um Óscar. Igualmente famosa é a série televisiva O
Mundo Submarino de Jacques Cousteau.
Mas
se o Calypso é
indissociável do nome de Cousteau, o gorro vermelho que usava também
era uma imagem de marca do explorador. Ex-oficial da marinha
francesa, não era propriamente um cientista, mas permitiu que as
ciências oceanográficas se desenvolvessem através da sua
divulgação junto do público e nas expedições iam muitas vezes
cientistas. Entre o seu legado está ainda a invenção (com o
engenheiro francês Émile Gagnan), durante a II Guerra Mundial, do
regulador do escafandro, uma peça que debita o ar à pressão do
ambiente. Até aí, a regulação das válvulas era manual, mas com a
invenção deste aparelho pôde dar-se a conquista do mar por toda a
gente.
Como
grande divulgador do mar, Cousteau teve o Calypso como
companheiro de viagens durante mais de 40 anos. Resta agora saber o
que lhe reserva o futuro, se a morte, se a preservação de um
passado glorioso.
Fonte: Público
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