A Associação Internacional de Coordenação do Manuseamento de Carga (International Cargo Handling Coordination Association – ICHCA) divulgou recentemente uma análise aprofundada que revela os riscos mais graves e persistentes enfrentados pelos trabalhadores envolvidos no manuseamento de carga em portos e terminais a nível mundial, nomeadamente estivadores.
Esta investigação, baseada no Severe Risks Dashboard — uma ferramenta que compila quase 500 incidentes graves ocorridos ao longo dos últimos vinte e cinco anos. pretende alertar o sector para os perigos reais que colocam vidas em risco diariamente, e fomentar uma cultura de segurança mais eficaz e alinhada com a prática no terreno.
Os dados recolhidos mostram uma realidade preocupante. Os acidentes graves distribuem-se quase de forma igual entre operações a bordo de navios e actividades realizadas em terra. Cerca de 75% dos incidentes ocorreram durante operações de carga e descarga, sendo o esmagamento por carga a principal causa de morte identificada. Logo a seguir, surgem as colisões entre veículos e peões, que representam 23% dos casos fatais. Também as quedas em altura e o trabalho em espaços confinados figuram entre os factores de maior risco.
Segundo a ICHCA, muitos destes perigos são conhecidos de longa data e continuam a repetir-se, o que demonstra que o cumprimento formal das normas de segurança, por si só, não é suficiente. A associação defende que é necessário ir além da mera conformidade com regulamentos e directivas, sendo fundamental observar como o trabalho é efectivamente realizado no dia-a-dia, e não apenas como está descrito nos manuais ou instruções internas.
Richard Steele, director executivo da ICHCA, sublinha que a sensibilização para estes incidentes e para as suas causas profundas é essencial para inverter a tendência. Na sua perspectiva, a protecção da vida dos trabalhadores deve ser colocada acima de qualquer outro interesse por todas as entidades envolvidas nas operações portuárias e logísticas.
Para além de expor os problemas, o Severe Risks Dashboard apresenta também um conjunto de recomendações práticas, entre as quais se destaca a necessidade de reavaliar e testar os controlos de segurança existentes, assegurando que se mantêm pertinentes e eficazes. Recomenda-se igualmente uma maior harmonização entre os procedimentos formais e a realidade operacional no terreno, bem como o envolvimento activo dos trabalhadores e das partes interessadas na construção de soluções sustentáveis.
Steele reforça ainda que operações seguras não são apenas uma exigência ética e legal, mas também uma mais-valia empresarial: empresas sustentáveis são, inevitavelmente, empresas seguras. E, segundo afirma, não é necessário esperar que a mudança venha de fora, é possível e desejável agir de imediato.
Este trabalho contínuo da ICHCA, que consiste na identificação e divulgação dos riscos mais críticos, insere-se numa missão mais vasta: contribuir para a criação de ambientes de trabalho mais seguros, mais saudáveis e mais resilientes em toda a cadeia global de abastecimento de carga.
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