A mudança de ciclo é uma excelente oportunidade para Portugal atrair a actividade do shipping internacional.
O shipping, enquanto designação, é para a generalidade dos cidadãos pouco percetível. No entanto, se dissermos que se trata da atividade económica marítima que assegura o transporte de mercadorias e de passageiros quer pelas vias fluviais ou lagos, quer em mar aberto (oceano), todos facilmente compreenderão.
Trata-se de uma actividade de enorme amplitude na economia azul, agregadora de diversos sectores económicos, muito diversificada nos produtos que oferece, geradora de emprego e com uma capacidade contínua de absorção de soluções criativas e inovadoras.
No passado, o shipping foi efectivamente uma actividade relevante para a nossa economia, sendo-o no presente muito menos, pois poucas foram as empresas sediadas no país com capacidade resiliente. No entanto, esta circunstância não impediu que progressivamente se tenham assumido novos caminhos para manter e regenerar esta actividade de elevado valor para o país.
Por isso, a mudança de ciclo a que temos vindo a assistir, ilustrada pelo crescimento contínuo das nossas maiores empresas de shipping, pelo forte aumento do número de registos de navios com bandeira portuguesa na Madeira, pela fixação da sede de empresas internacionais de shipping em Portugal e pela conjuntura internacional (Brexit, por exemplo), permite identificar um importante potencial.
São sinais que revelam uma excelente oportunidade e que são um alerta para os nossos actores públicos (governo, autarquias, regiões) e privados (empresas, associações) agirem rapidamente na construção de uma acção de política pública que também permita a Portugal assumir-se e cimentar-se como um destino para a actividade do shipping internacional, pois tem excelentes condições.
A enorme transversalidade desta actividade será certamente uma âncora para assegurar melhores condições para o desenvolvimento, financiamento e crescimento do mar português.
Assim, deve promover-se o conhecimento e as condições especiais que o país, certas regiões e concelhos podem oferecer, tais como a localização estratégica, ótima capacidade de investigação e inovação nos centros de I&D, forte ecossistema empreendedor, boas universidades e uma estrutura formativa com capacidade de reajustamento, infraestruturas adequadas, excelentes condições para se viver e um quadro político estável.
Mas para isso é necessário estarmos dispostos a melhorar algumas questões em diversas áreas: na da fiscalidade, ajustar o quadro legal desta atividade; na da segurança social, resolver ligeiros problemas de enquadramento – estes são apenas dois exemplos do que podemos fazer para convencer as empresas de shipping a sediarem-se no nosso país, a aumentarem o registo de navios com bandeira portuguesa, a utilizarem as nossas infraestruturas de reparação naval e portos, etc.
Sendo uma actividade transversal a fixação de empresas internacionais de shipping no território português, certamente é uma oportunidade, pois pode impulsionar o crescimento de outros sectores económicos do país que estão directa ou indirectamente relacionados – turismo, agricultura, metalomecânica, finança e seguros.
Por isso, a mobilização de todos os avtores do mar é uma boa aposta para se criarem as sinergias fundamentais ao desenvolvimento desta actividade.
Abílio Martins Ferreira - Gestor e Analista de Políticas Públicas.
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