sábado, 27 de maio de 2017

Tirar os plásticos do mar, começando logo no piquenique


Comissão Europeia, Ciência Viva e Embaixada dos Estados Unidos juntaram-se para chamar a atenção para o impacto dos microplásticos nos oceanos e na sociedade
Por entre os banhistas que aproveitam um dia de verão em maio, surge um grupo equipado com t-shirts azuis, camaroeiro e um saco na mão. Vão passando a areia pelos camaroeiros e retirando as minúsculas partículas de plásticos que vão ficando na rede. Perante o espanto e o elogio dos banhistas, o grupo vai limpando a praia da Mata, na Costa da Caparica. Uma iniciativa da Comissão Europeia, da Ciência Viva e do Departamento de Estado dos Estados Unidos que visa alertar para o aumento dos plásticos nos oceanos.
"Mais de 80% do lixo marinho é plástico", aponta a investigadora Filipa Bessa, do Centro de Ciências do Mar e do Ambiente (MARE), da Universidade de Coimbra. Estes plásticos acabam por se degradar e ficar com menos de 5 milímetros - são os microplásticos -, que depois são ingeridos pelos peixes, absorvidos pelo sal marinho e acabam por entrar na própria cadeia alimentar dos seres humanos.
Apesar dos impactos na saúde humana ainda não serem conhecidos, os especialistas concordam que estes não podem ser positivos. Pelo menos já não estão a ser para a saúde dos oceanos, como ontem foi sublinhado em diversas ocasiões durante um evento que começou com a inauguração da exposição "Um oceano sem plástico", no Pavilhão do Conhecimento, passou pela recolha de microplásticos e acabou num piquenique sustentável, na praia da Mata, na Caparica.


Ainda há poucas semanas foi notícia que estávamos a temperar a comida com microplásticos do sal. E se olharmos para os areais nacionais percebemos que muito do plástico aqui abandonado acaba por chegar ao mar. "As praias têm muito lixo mesmo e no mar nota-se ainda mais. Faço surf e vejo que o mar está cada vez mais poluído", reconhece Teresa Castro, que ontem aproveitou o bom tempo para ir até à praia. Ficou surpreendida com a acção de limpeza, embora admita que "não resolve o problema, mas pelo menos chama a atenção".
Na opinião da instrutora de fitness, "as pessoas não têm a noção do impacto de deixar lixo na areia ou então estão apenas despreocupadas". Já antes, durante o debate que se seguiu à exposição, Tiago Pitta e Cunha, presidente da Comissão Executiva da Fundação Oceano Azul, tinha sublinhado a demora da sociedade em perceber a poluição dos oceanos. "Falta a humanização do problema, as pessoas não percebem que o oceano tem impacto no nosso habitat e pensam que se trata apenas do habitat dos peixes."

Para o Director-geral de Política do Mar, Fausto Brito e Abreu, a prioridade "é tirar plástico do mar, a prevenção é fundamental, mas ao mesmo tempo temos que tirar o plástico que já está nos mares." Por isso, o responsável admite que as soluções que venham da biotecnologia e da investigação "são importantes".
No entanto, também ainda há muita investigação para fazer e conhecer o impacto dos microplásticos. A própria União Europeia lançou há duas semanas, "dois estudos que têm como objectivo um conhecer os microplásticos intencionalmente utilizados em produtos e, o outro, sobre a libertação dos microplásticos para o ambiente", aponta João Aguiar Machado, Director-geral dos Assuntos do Mar e da Pesca da Comissão Europeia.

A nível europeu, a comissão refere também que há objectivos como "em 2025 queremos que 55% dos plásticos reutilizados sejam reciclados, também temos a meta da redução do lixo marinho no oceano em 2030, não apenas para os plásticos, mas para todo o lixo", acrescenta o responsável europeu.

Uma das formas de conseguir reduzir as 10 milhões de toneladas de lixo que todos os anos são despejados nos oceanos é fazer, por exemplo, um piquenique sustentável, como o que foi promovido ontem. Na cesta de vime, Rosália Vargas, presidente da Ciência Viva, trouxe feijão cozido e ovo cozido, tortilha de algas, alface lavada sem tempero, morangos e água numa garrafa de vidro. Tudo chegou também em recipientes de vidro ou papel, os guardanapos são de pano e o pão e a fruta vieram em taleigos. "Dá trabalho, mas de facto é tudo muito melhor", admite. "Devemos claro reciclar os plásticos que usamos, mas se pudermos evitar logo à partida usá-los é o ideal e temos obrigação de transmitir essa mensagem aos mais novos", acrescenta a responsável da Ciência Viva. Local onde está a exposição "Um oceano sem plástico", da ONG Plastic Change e do Aquário Nacional da Dinamarca, sobre o impacto dos plásticos na vida marinha e que recebeu o apoio do departamento de Estado dos EUA para se tornar itinerante.

Fonte: DN

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