sexta-feira, 11 de novembro de 2016

A volta ao mundo em menos de 80 dias em Vela


A mais radical e extrema de todas as maratonas oceânicas começou dia 6 de Novembro, em França. Uma volta ao mundo, um velejador só por barco, sem paragens nem assistência.
Começou no passado dia 6 de Novembro em Les Sables d"Olonne, na baía da Biscaia, costa atlântica francesa, a mais louca de todas as regatas oceânicas. Ocorre de quatro em quatro anos e exige dos velejadores o que nenhuma outra competição no mundo da vela exige.
Pelas 11.00 da manhã, 29 homens cruzaram a linha de partida para uma volta ao mundo. Cada um só no seu barco (monocascos de 18,28 metros). Todos sabendo que a prova tem duas regras sagradas: não parar em lado nenhum (quanto muito podem regressar à partida para reparações e voltar a partir); e não serem de forma alguma assistidos a partir do exterior. Mais do que uma competição, é uma epopeia. Dos 138 velejadores que já tentaram fazer a prova, só 71 terminaram.

A Vendée Globe - assim se chama a prova - fascina amantes da vela no mundo inteiro, em particular em França. Por estes dias, a marina onde os 29 barcos estão estacionados tem sido visitada por centenas de mihares de pessoas, numa romaria incessante.
O que provoca este entusiasmo é do domínio do misterioso. O que se tem passado até agora para merecer a visita de tantas pessoas? Nada. Os barcos lá estão, parados. Às vezes é possível uma selfie com os skippers. A prova é francesa, os media franceses dão-lhe grande destaque e todas as sete edições que já decorreram (a primeira foi em 89/90) foram vencidas por velejadores franceses. Dos 29 marinheiros que partiram - um recorde na história da prova - vinte são franceses. O mais velho, Rich Wilson, norte-americano, tem 65 anos; o mais novo, Alan Roura, suiço , apenas 23. Já houve mulheres a competir (a melhor classificada foi, em 2000/2001, a britânica Ellen Macarthur, que ficou em segundo lugar) mas desta vez nenhuma avançou.
Um único homem conseguiu vencer duas vezes: Michel Desjoyeaux. É um lobo solitário do alto mar e na última Volvo Ocean Race (outra volta ao mundo, mas esta com várias paragens e tripulações) integrou na primeira etapa, entre Alicante (Espanha) e a Cidade do Cabo (África do Sul), a tripulação de nove homens de uma equipa espanhola, o Team Mapfre. As coisas não correram bem. O barco foi o último a chegar à Cidade do Cabo. Desjoyeaux não voltaria a embarcar.
Este ano há uma novidade nos barcos que pode revolucionar a vela oceânica em monocasco: os chamados foils. São dois patilhões colocados lateralmente nos veleiros, num formato que faz lembrar o bigode de Salvador Dali. Com condições favoráveis, fazem o casco içar-se da água, perdendo atrito e com isso ganhando velocidade. Literalmente, os veleiros planam, e podem atingir velocidades na ordem dos 30 nós. A revolução começou em 2013 nos multicascos que disputaram a Taça América (a Fórmula 1 da vela) mas agora estende-se a monocascos para uma volta ao mundo sem paragens nem assistência. Dos 29 barcos concorrentes, sete estão equipados com foils. Caso esta solução técnica vença, então todas as outras maratonas oceânicas - a mais conhecida das quais é a Volvo Ocean Race - tenderão a imitá-la.

Mas essa é a grande dúvida. Um veleiro que quase literalmente voa torna-se bastante mais difícil de controlar do que um convencional. A tensão a que estarão sujeitos os materiais (velas, cascos, patilhões, leme) aumentará brutalmente, sendo portanto mais natural que surjam avarias. Além do mais, esta é uma regata que se percorre em grande parte nos furiosos mares do sul. E há outra coisa com os que velejadores dos barcos convencionais também contam: o esgotamento físico dos concorrentes dos barcos voadores. Controlar um barco destes exige muito mais músculo do que nos outros. Necessariamente terão de levantar o pé do acelerador.
O recorde da prova foi estabelecido na última edição (2012-13) por François Gabart: 78 dias, 2h e 16m. Se os foils vencerem, espera-se que essa marca seja batida por três ou quatro dias. Se assim for, tudo mudará. Até lá, dias e dias no mar a dormir 20 minutos de quatro em quatro horas e enfrentando sós a natureza mais extrema.

O David Beckham dos mares
A Vendée Globe é uma prova de franceses - e por isso os britânicos não descansam enquanto não a vencerem. O principal pivot desse esforço é Alex Thomson, uma super-estrela da vela a quem o patrocínio milionário da Hugo Boss obriga a uma pose que faz lembrar David Beckham e a proezas acrobáticas com propagação viral na net como a famosa caminhada no mastro. Na última edição ficou em 3º.

Fonte: DN

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