A
mais radical e extrema de todas as maratonas oceânicas começou dia 6 de Novembro,
em França. Uma volta ao mundo, um velejador só por barco, sem
paragens nem assistência.
Começou no passado dia 6 de Novembro em Les Sables d"Olonne, na baía da Biscaia, costa
atlântica francesa, a mais louca de todas as regatas oceânicas.
Ocorre de quatro em quatro anos e exige dos velejadores o que nenhuma
outra competição no mundo da vela exige.
Pelas
11.00 da manhã, 29 homens cruzaram a linha de partida para uma
volta ao mundo. Cada um só no seu barco (monocascos de 18,28
metros). Todos sabendo que a prova tem duas regras sagradas: não
parar em lado nenhum (quanto muito podem regressar à partida para
reparações e voltar a partir); e não serem de forma alguma
assistidos a partir do exterior. Mais do que uma competição, é uma
epopeia. Dos 138 velejadores que já tentaram fazer a prova, só 71
terminaram.
A
Vendée Globe -
assim se chama a prova - fascina amantes da vela no mundo inteiro, em
particular em França. Por estes dias, a marina onde os 29 barcos
estão estacionados tem sido visitada por centenas de mihares de
pessoas, numa romaria incessante.
O
que provoca este entusiasmo é do domínio do misterioso. O que se
tem passado até agora para merecer a visita de tantas pessoas? Nada.
Os barcos lá estão, parados. Às vezes é possível uma selfie com
os skippers.
A prova é francesa, os media franceses
dão-lhe grande destaque e todas as sete edições que já decorreram
(a primeira foi em 89/90) foram vencidas por velejadores franceses.
Dos 29 marinheiros que partiram - um recorde na história da
prova - vinte são franceses. O mais velho, Rich Wilson,
norte-americano, tem 65 anos; o mais novo, Alan Roura, suiço ,
apenas 23. Já houve mulheres a competir (a melhor classificada foi,
em 2000/2001, a britânica Ellen Macarthur, que ficou em segundo
lugar) mas desta vez nenhuma avançou.
Um
único homem conseguiu vencer duas vezes: Michel Desjoyeaux. É um
lobo solitário do alto mar e na última Volvo Ocean Race (outra
volta ao mundo, mas esta com várias paragens e tripulações)
integrou na primeira etapa, entre Alicante (Espanha) e a Cidade do
Cabo (África do Sul), a tripulação de nove homens de uma equipa
espanhola, o Team Mapfre. As coisas não correram bem. O barco foi o
último a chegar à Cidade do Cabo. Desjoyeaux não voltaria a
embarcar.
Este
ano há uma novidade nos barcos que pode revolucionar a vela oceânica
em monocasco: os chamados foils.
São dois patilhões colocados lateralmente nos veleiros, num formato
que faz lembrar o bigode de Salvador Dali. Com condições
favoráveis, fazem o casco içar-se da água, perdendo atrito e com
isso ganhando velocidade. Literalmente, os veleiros planam, e podem
atingir velocidades na ordem dos 30 nós. A revolução começou em
2013 nos multicascos que disputaram a Taça América (a Fórmula 1 da
vela) mas agora estende-se a monocascos para uma volta ao mundo sem
paragens nem assistência. Dos 29 barcos concorrentes, sete estão
equipados com foils.
Caso esta solução técnica vença, então todas as outras maratonas
oceânicas - a mais conhecida das quais é a Volvo Ocean Race -
tenderão a imitá-la.
Mas
essa é a grande dúvida. Um veleiro que quase literalmente voa
torna-se bastante mais difícil de controlar do que um convencional.
A tensão a que estarão sujeitos os materiais (velas, cascos,
patilhões, leme) aumentará brutalmente, sendo portanto mais natural
que surjam avarias. Além do mais, esta é uma regata que se percorre
em grande parte nos furiosos mares do sul. E há outra coisa com os
que velejadores dos barcos convencionais também contam: o
esgotamento físico dos concorrentes dos barcos voadores. Controlar
um barco destes exige muito mais músculo do que nos outros.
Necessariamente terão de levantar o pé do acelerador.
O
recorde da prova foi estabelecido na última edição (2012-13) por
François Gabart: 78 dias, 2h e 16m. Se os foils vencerem, espera-se
que essa marca seja batida por três ou quatro dias. Se assim for,
tudo mudará. Até lá, dias e dias no mar a dormir 20 minutos de
quatro em quatro horas e enfrentando sós a natureza mais extrema.
O
David Beckham dos mares
A
Vendée Globe é uma prova de franceses - e por isso os britânicos
não descansam enquanto não a vencerem. O principal pivot desse
esforço é Alex Thomson, uma super-estrela da vela a quem o
patrocínio milionário da Hugo Boss obriga a uma pose que faz
lembrar David Beckham e a proezas acrobáticas com propagação viral
na net como a famosa caminhada no mastro. Na
última edição ficou em 3º.
Fonte: DN
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