Subida
da temperatura da água está a atrair mais tubarões à costa. Mas
não são um grande perigo: só procuram peixes e plâncton
Que
a costa portuguesa é abastada de tubarões já não é propriamente
novidade. Serão mais de 30 as espécies que "moram" lá
para alto-mar, a um mínimo de dez quilómetros dos areais. Mas este
verão aconteceu algo invulgar. A temperatura da água subiu para
valores recordes, a rondar os 25 a 26 graus, tendo atraído o mais
famoso dos predadores - que até Spielberg celebrizou no cinema -
para próximo das praias. Mas não há razão para medo. Os
especialistas garantem que os tubarões que por cá temos só andam
atrás de novos cardumes e não representam perigo para os humanos. É
que chegaram peixes invulgares por estas paragens, que este ano se
deixaram convencer pela água quente. Quando arrefecer voltarão ao
Mediterrâneo.
O
avistamento de um tubarão-martelo de 2,5 metros, filmado esta semana
por um grupo de pescadores na zona da Comporta, ao largo de Setúbal,
é um dos mais curiosos, enquanto dois pescadores foram mordidos. Um
ao largo de Peniche, tendo sido resgatado de urgência pela Marinha
na quarta-feira, e um outro camarada também sofreu uma dentada a 26
de Julho ao largo da Póvoa de Varzim. Ambos estariam a manusear o
peixe preso nas redes. Mas há mais testemunhos de quem também foi
surpreendido por tubarão-frade ou tintureira, conhecido por
tubarão-azul, o mais comum em Portugal.
Que
o diga Paulo Martins, pescador da Costa de Caparica, cujas redes de
arte xávega têm trazido tintureiras como nunca. "Têm meio
metro e é preciso ter cuidado quando as estamos a manusear, porque
podem morder para tentarem fugir", revela, recorrendo à
experiência de anos para garantir que as águas mais quentes estão
a trazer novas espécies e a afastar outras.
"A
sardinha e o carapau quase não existiram este verão", diz,
revelando que há dias apanhou um lírio com 24 quilos que vendeu em
lota por 180 euros, depois de estar tentado a devolver o exemplar ao
mar antes de conhecer o seu valor. Desconfia que terá sido o
primeiro pescador da zona a capturar esta espécie mais comum nos
Açores. "Mas ainda agora fiz nova captura e apanhei seis
palmetas, o que também era raro", insiste.
É
no encalço das novas espécies que os tubarões se aproximam das
praias, como confirma o diretor do Departamento de Educação do
Zoomarine, João Neves. "É um fenómeno igual ao dos golfinhos
que também têm registado mais avistamentos nas praias, porque andam
à procura de outros peixes junto à costa", compara,
acrescentando que o risco para os banhistas é "zero".
Recorre
às estatísticas para assegurar que Portugal não tem registos
objetivos de ataques de tubarão, admitindo que algum animal possa
morder um pescador no momento em que está a ser "manipulado",
considerando que isso é apenas o instinto de sobrevivência para
tentar escapar. "Nós não somos comida para eles e até fogem
quando nos veem", insiste o especialista, admitindo que se o
aquecimento global elevar a temperatura da água do mar para valores
próximos aos deste ano é possível que os tubarões apareçam com
mais frequência. "Uns alimentam-se no fundo e outros mais à
superfície. Talvez o tubarão-frade, que não tem dentes e come
plâncton, passe a ser mais visto", diz.
Nuno
Moreira, do Instituto Português do Mar e da Atmosfera (IPMA),
confirma que as temperaturas este verão andaram acima do normal e
que as várias situações de levante no Algarve aqueceram o mar como
não havia memória, elevando a temperatura da água até às zonas
da Comporta e de Troia. "Não tivemos o arrefecimento típico de
verão com a chamada nortada."
Fonte: DN
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