quinta-feira, 4 de junho de 2015

Economia do mar 'tropeça' em barreiras de papel

As "barreiras de papel" continuam a travar o desenvolvimento de sectores promissores da economia do mar, como a aquacultura, defende o especialista Miguel Marques, que pede mais estabilidade na legislação.


Para que o sector do mar cresça mais "está a faltar acima de tudo alguma consistência nas regulamentações, ou seja, que os empresários saibam atempadamente quais os regulamentos que existem e que vão existir, que sejam estáveis e que não tragam um excesso de carga burocrática", argumenta o economista e autor do LEME, o Barómetro que a consultora PricewaterhouseCoopers (PwC) dedica anualmente à economia do mar.

A aquacultura e o turismo náutico são "exemplos claros" destas "barreiras de papel" que Miguel Marques considera serem um dos maiores entraves ao desenvolvimento da economia do mar.
"Se a burocracia e as regras se tornarem mais estáveis e conhecidas, simples de entender e favoráveis ao investimento, certamente a economia do mar vai evoluir, até porque neste momento (...) o seu peso na economia como um todo é baixo face ao seu potencial", sublinhou.
Apesar de tudo, "a economia do mar tem sido bastante resiliente" e cresceu entre 2008 e 2013, arrastada pelos portos, pela transformação de pescado e pelo turismo.
Cauteloso no que diz respeito a números, já que não existem dados fiáveis sobre o sector, Miguel Marques admite que a economia do mar terá crescido cerca de 3% nesse período de cinco anos.
O setor dos portos "tem crescido bastante, tal como o da exportação de pescado transformado, incluindo conservas e peixe congelado, bem como os cruzeiros", adiantou o consultor.
Por outro lado, a construção naval, tem vindo a decrescer desde 2008, enquanto o sector da manutenção e reparação naval se tem mantido "relativamente estável".
Já no caso da pesca, que tem vindo a reduzir capturas, atingindo um mínimo de 45 anos no ano passado, muito por causa das fortes restrições que têm sido impostas à pesca da sardinha, tem sido o aumento de preços a compensar o negócio.
"Quando há uma diminuição das quantidades é normal que o valor unitário suba", comentou Miguel Marques, reforçando o "pedido já antigo dos pescadores" de "meios técnicos para que se consiga medir efectivamente, com maior precisão o 'stock' de pescado" disponível.
O economista lembra, no entanto, que está ainda por explorar a valorização de espécies de pescado menos consumidas pelos portugueses e que têm actualmente um valor baixo.
"O valor atribuído à pesca também advém da procura de cada uma das espécies", salientou, sugerindo que é possível valorizar espécies como a cavala, mas só haverá uma reorientação da oferta se houver mercado.
"Temos de habituar as pessoas, no bom sentido, de que a cavala também é boa como a sardinha", destacou.
Trata-se de "um trabalho de 'marketing', que demora o seu tempo a ter resultados" e que deve continuar também a ser aplicado às conservas portuguesas que estão a tornar-se mais "fortes e reconhecidas".
Além das áreas já consolidadas, como os portos, a fileira alimentar do mar e o turismo, existem outras indústrias com potencial, como a aquacultura, que têm condições para crescer a uma taxa de dois dígitos "desde que exista financiamento adequado" e menos burocracia.
No caso das indústrias emergentes, como a biotecnologia azul ou a mineração, "é necessário mais tempo para que se tornem importantes no todo da economia".
Miguel Marques notou ainda que estas são indústrias "muito consumidoras de capital humano" e que a economia do mar pode ajudar "no esforço nacional da criação de emprego", embora nem sempre se preste atenção a este potencial.
"Nos últimos cinco anos não tem vindo a crescer a adesão aos cursos nesta área, nem tem havido nenhum programa específico [que seria necessário] dado o potencial que esta economia tem de absorver emprego", lamentou o economista.


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