De
cada vez que alguém vê e fotografa golfinhos a nadar no estuário
do Tejo, o telemóvel da bióloga Cristina Brito toca. São os
jornalistas a quererem saber se, afinal, os golfinhos estão de
regresso ao estuário e, se sim, o que os traz de volta. A resposta
sai com dúvidas. “Não sabemos muito bem o que dizer porque não
há dados muito concretos e científicos”, admite a investigadora.
Perante
esta incerteza, e como os
avistamentos destes cetáceos no Tejo se multiplicaram nos últimos
anos,
os investigadores da empresa Escola de Mar e da Associação para as
Ciências do Mar (uma organização sem fins lucrativos que promove a
investigação do meio marinho, à qual Cristina Brito preside),
decidiram mergulhar na história e procurar respostas. Através do
projecto “Conservação e golfinhos no estuário do Tejo:
realidade, imaginário ou mito?”, vão tentar perceber se os
golfinhos estão a voltar a uma antiga área de residência ou se são
visitantes ocasionais numa zona onde há hoje mais comida disponível
e melhor qualidade ambiental, em resultado das intervenções ao
nível do saneamento na área metropolitana de Lisboa.
“Vamos
analisar dados históricos desde meados do século XIX, através dos
registos dos naturalistas e das notícias de jornais, para perceber
se os golfinhos estão a voltar a um ambiente no qual já viveram ou
se estão apenas de passagem”, explica Cristina Brito, que coordena
o projecto. Numa segunda fase, serão realizadas saídas de campo
para “observações de oportunidade”.
“Iremos para o estuário com empresas turísticas e que fazem
transporte fluvial”, para tentar observar golfinhos, esclarece esta
especialista em mamíferos marinhos. Os pescadores e outros
utilizadores do estuário também serão ouvidos neste estudo.
Os
avistamentos mais recentes são de golfinhos-roazes (Tursiops
truncatus),
da sub-espécie residente no estuário do Sado, e de
golfinhos-comuns (Delphinus
delphis),
mais frequentes nas zonas costeiras. "Mas há registo de
avistamentos até em Vila Franca de Xira", nota a bióloga. A
especialista lembra que o número de avistamentos, que parece mais
significativo nos últimos "dois ou três anos", pode estar
simplesmente relacionado com uma maior atenção dada pela população
e pelos próprios meios de comunicação a esta espécie.
Golfinhos
toleram poluição
O objectivo, continua a investigadora, é “compilar os diversos registos [de observações] numa escala temporal e perceber se há um padrão que indique eles estão a voltar”. Se esse regresso se confirmar, depois é preciso saber o motivo: será a melhoria da qualidade da água, motivada pelas obras que permitiram, em Janeiro de 2011, deixar de lançar no rio os esgotos de 120 mil habitantes de Lisboa?
O objectivo, continua a investigadora, é “compilar os diversos registos [de observações] numa escala temporal e perceber se há um padrão que indique eles estão a voltar”. Se esse regresso se confirmar, depois é preciso saber o motivo: será a melhoria da qualidade da água, motivada pelas obras que permitiram, em Janeiro de 2011, deixar de lançar no rio os esgotos de 120 mil habitantes de Lisboa?
“Não
é fácil relacionar directamente uma coisa com a outra”, adverte
Cristina Brito. Isto porque os golfinhos não são uma espécie
indicadora da qualidade da água – toleram facilmente sítios
poluídos, já que acumulam a poluição na gordura corporal. No
entanto, nota a bióloga, pode haver uma relação indirecta. “Num
ecossistema com melhor qualidade há naturalmente mais peixes, o que
atrai mais golfinhos.”
O
estudo, que já começou no ano passado e deverá estar concluído no
final de 2015, tem o apoio do Centro de Oceanografia da Faculdade de
Ciências da Universidade de Lisboa e do Centro de História de
Além-Mar da Universidade Nova de Lisboa. Mas os investigadores
querem também envolver os municípios. As câmaras de Almada e
Cascais vão apoiar financeiramente o projecto, as de Alcochete e do
Seixal disponibilizam apoio logístico, e outros municípios que
fazem fronteira com o maior estuário da Europa Ocidental serão
ainda contactados.
A
Câmara de Cascais explica que este apoio está inserido num
“esforço” que a autarquia está a fazer desde 2008 com vista à
caracterização e monitorização da zona costeira, através do
programa Aquasig Cascais.
Durante
a investigação, serão apresentadas conclusões provisórias em
palestras e em actividades de sensibilização ambiental – outro
dos objectivos do projecto.
Fonte: Público
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