sexta-feira, 31 de janeiro de 2014

Grande Barreira de Coral. Austrália aprova milhões de toneladas de descargas


Governo australiano e entidade que gere a reserva querem expandir um porto local e apostar na exportação de carvão
A Grande Barreira do Coral vai pagar o preço para a Austrália ficar com o maior porto de carvão do mundo na província de Queensland. A entidade que gere a mais vasta e rica barreira de recife de coral do planeta autorizou hoje a descarga de até três mil milhões de metros cúbicos (m3) de sedimentos para o fundo marinho da reserva - composta por cerca de três mil corais e habitat para mais de 1600 espécies de peixe.
As areias serão provenientes das dragagens para expandir o porto de Abbot Point, localizado na ‘fronteira’ com a reserva marinha da Grande Barreira do Coral. O objectivo é aumentar para 70 milhões de toneladas a quantidade de carvão que, por ano, passará pelo porto – o que aumentar até 2,7 mil milhões de euros os seus lucros e criará mais de 15 mil postos de trabalho, segundo o jornal “The Australian”.
A ameaça já era real desde Dezembro, quando o Greg Hunt, ministro do Ambiente australiano, aprovara o projecto. Mas a sua execução ainda estava pendente do aval da Autoridade do Parque Marinho de Grande Barreira do Coral (GBRMPA, na sigla inglesa), que optou por abrir a porta a que três milhões de m3 de sedimentos sejam depositados na reserva. As areias serão extraídas do fundo do mar em Abbot Point, na zona exclusiva do porto, e serão depositadas em Bowen, cerca de 24 quilómetros mais a sul e ainda dentro da área da reserva.
Uma decisão que “poderá sufocar os corais e plantas marinhas”, alertou Selina Ward, bióloga marinha da Universidade de Queensland e uma das 233 cientistas que assinou a petição contra o projecto, lembrou o “Financial Times”. Já Richard Leck, da organização World Wide Fund for Nature, classificou a medida ao “The Guardian” como “triste para as pessoas que se preocupam com o futuro da Grande Barreira de Coral”, que se estende ao longo de 2600 quilómetros da costa nordeste australiana e concentra à volta de 10% dos corais existentes no planeta.
O presidente da entidade explicou que as obras se vão efectuar em Abbot Point por se tratar do porto (em actividade desde 1984) que “está melhor localizado ao longo da costa da Grande Barreira de Coral”. Russel Reicheit argumentou ao “Financial Times” que “a dragagem necessária será muito menor à que teria de ser feita em outros portos” da zona. A autoridade da reserva definiu ainda 47 “condições ambientais” que terão de ser respeitadas pelo projecto – como “minimizar o impacto na biodiversidade” local ou a “monitorização da qualidade da água” nos cinco anos seguintes à descarga dos sedimentos.
A Sociedade para a Conservação Marinha australiana já criticou a decisão, denunciando a alegada pressão exercida por Tony Abbott, primeiro-ministro do país, sobre a autoridade do parque marinho. “Esta decisão contraria os estatutos do parque marinho e acreditamos firmemente que reflecte uma pressão política exercida pelos interesses mineiros do governo”, disparou Felicity Wilshart, presidente da entidade.
Em Setembro de 2013, aliás, o primeiro-ministro australiano classificou as taxas cobradas às emissões de dióxido de carbono e à actividade mineira de “socialismo mascarado de ambientalismo”.
A situação apenas se poderá alterar caso, em Novembro, a UNESCO decida classificar como “em perigo” a Grande Barreira de Coral, já que a reserva marinha é Património Mundial da Humanidade. O próximo encontro desta entidade das Nações Unidas está agendado para Junho, no Qatar, onde os seus responsáveis votarão esta possibilidade.

Fonte: Ionline

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