Para
resistir às implacáveis mordeduras das piranhas, o pirarucu, um
peixe gigante da Amazónia, está equipado com um colete antidentes,
duro no exterior e flexível no interior – revela agora um estudo
sobre a estrutura das suas escamas realizado com raios X intensos.
Segundo
este estudo, publicado na última terça-feira na revista Nature
Communications,
as escamas do
Arapaima
gigas,
o nome científico do pirarucu, funcionam como uma armadura natural a
vários níveis de defesa – “uma estrutura única”, que não
fica atrás dos coletes de protecção dos militares e das forças de
segurança. Esta “estrutura sofisticada” à base de “elementos
biológicos simples” é o segredo da blindagem tão eficaz do
pirarucu, concluem os cientistas.
O
primeiro nível de defesa destas escamas é composto por superfície
espessa, de apenas meio milímetro, mineralizada e muito dura, que
impede a penetração dos dentes dos predadores. Por baixo dessa
superfície, existe uma segunda camada flexível, duas vezes mais
espessa, composta por lâminas de colagénio (uma proteína),
enroladas em espiral e orientadas em direcções diferentes, capazes
de se realinharem em função da pressão a que são submetidas.
Resultado:
o impacto das mandíbulas das piranhas é amortecido e repartido por
uma grande superfície, o que impede a camada exterior das escamas de
se quebrar – uma versão aperfeiçoada das malhas de ferro, que
protegiam os cavaleiros da Idade Média. E para aperfeiçoar ainda
mais este dispositivo, as escamas estão sobrepostas e são
onduladas, para transferir melhor a energia à camada interior,
sublinha o artigo científico, assinado à cabeça por Elizabeth
Zimmermann, do Laboratório Nacional Lawrence Berkeley, na
Califórnia, Estados Unidos.
Mais
conhecido no Brasil como pirarucu ou pirosca, o Arapaima
gigas é
um dos maiores peixes de água doce conhecidos: já se pescaram
exemplares de 200 quilos e três a quatro metros de comprimento. Mas
se as escamas o protegem das piranhas e de outros predadores
naturais, elas são de pouca utilidade contra o mais ameaçador de
todos os predadores – o homem, grande apreciador da sua carne.
Abundantemente
pescado no século XIX, encontra-se ameaçado de extinção e está
inscrito na lista de espécies em risco. Apesar das medidas de
preservação, muitos cientistas consideram que, para salvar esta
espécie, é necessário produzi-la em aquicultura, para abastecer os
mercados.
Carnívoro,
o Arapaima
gigas cresce
rapidamente, até dez quilos por ano, e aguenta as condições de uma
produção intensiva, graças à sua capacidade de respirar oxigénio
atmosférico, o que lhe permite viver em ambientes mal oxigenados.
Fonte:
Público
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