quarta-feira, 10 de julho de 2013

ONG denuncia corte de barbatanas de tubarões-azuis no mar dos Açores


A coordenadora da organização Sharkproject International nos Açores denunciou nesta quarta-feira que há pescadores espanhóis a desmembrarem tubarões-azuis no arquipélago, antes de chegarem a terra, contrariando uma directiva europeia que entrou em vigor a 6 de Julho. O governo regional garante que está atento.
“A nova lei diz agora que não é possível remover as barbatanas aos tubarões, têm de ser descarregados com as barbatanas e com a cabeça, ou seja, o animal completo, mas a 5 de Julho voltou a acontecer na Horta e garanto-lhe que este barco não se importou com a lei”, denunciou Friederike Kremer.
Aquela organização não-governamental (ONG) internacional tem como objectivo proteger os tubarões enquanto “predadores mais importantes do ecossistema” e actua em parceria com organizações de países de todo o mundo. Friederike Kremer assegura não estar contra os pescadores açorianos, alegando que estes respeitam a pesca sustentável, ao contrário de barcos estrangeiros, como as embarcações espanholas, que diz serem os grandes responsáveis pela dilapidação do tubarão-azul nos mares dos Açores.
“De momento, contamos aproximadamente cinco mil toneladas de tubarão-azul que é descarregado todas as semanas somente na Horta. Isto é de loucos, estamos a falar de 100 mil toneladas de tubarão-azul descarregadas por ano, somente na Horta. Todas as semanas existem barcos por lá, às vezes os barcos espanhóis estão lá todos os dias, em Abril foi de loucos”, denunciou.
A responsável pela Sharkproject diz que, apesar de ser uma actividade legal, a pesca do tubarão-azul (ou tintureiras) destrói o ecossistema. “Nós já temos os sinais de que o ecossistema à volta dos Açores está a degradar-se, os tubarões-azuis já não existem no mar de Santa Maria, por exemplo, já não há nada, é inacreditável”, afirmou, lamentando que a espécie esteja a desaparecer do mar açoriano para ser vendido por 0,30 cêntimos o quilo.

Um estudo recente concluiu que daqui por duas décadas será muito mais rentável o negócio da observação de tubarões em alto mar do que o da captura. A coordenadora do projecto vai iniciar nesta quarta-feira uma campanha nos Açores para tentar sensibilizar a população para a defesa do tubarão-azul na região, o único local da Europa onde ainda é possível mergulhar com a espécie.
“É possível ganhar muito mais dinheiro com os cinco mil mergulhadores que vêm aos Açores, todos fazem pelo menos dois mergulhos com tubarões por 300 euros. Só para os centros de mergulho são 1,5 milhões de euros, isto sem contar com os voos, alojamento, aluguer de carro, whalewatching [observação de baleias], entradas em museus ou idas a restaurantes, ou seja, representam dez vezes mais para a economia local”, assegura Friederike Kremer.
Governo está atento
O secretário regional dos Recursos Naturais, Luís Neto Viveiros, assegurou à agência Lusa que o governo regional está atento à captura de tubarões-azuis nos Açores e que se os navios espanhóis agirem contra a lei serão punidos.
A Comissão Europeia publicou a 29 de Junho um regulamento que acaba com a excepção que permitia cortar barbatanas de tubarões nos navios, da qual beneficiavam as frotas portuguesa e espanhola. A decisão teve o voto contra de Portugal.
“Nós estamos atentos e estamos tranquilos porque toda a informação de que dispomos é que de facto não há nenhum perigo de extinção dessas espécies", afirmou o governante. E sublinhou: "Estamos sempre em absoluta consonância com a Marinha e através da Inspecção Regional das Pescas temos todas as ferramentas accionadas que permitam evitar situações dessas e garantir a sobrevivência da espécie."
Numa nota entretanto divulgada, o Governo Regional dos Açores esclareceu que “o tubarão-azul descarregado recentemente no porto da Horta foi pescado por uma embarcação espanhola numa altura em que ainda não estava em vigor a directiva comunitária que impede o corte a bordo de barbatanas desta espécie, cuja captura continua autorizada”.
O Governo dos Açores garante ainda, num esclarecimento enviado à Lusa, que as quantidades de tubarão-azul descarregado na Horta referidas pela ONG são “incorrectas”. “Anualmente são descarregadas cerca de 2800 toneladas desta espécie nos portos da região”, lê-se na nota, que sublinha ainda que “as capturas realizadas pela frota comunitária com autorização para operar nos Açores ocorrem, na sua maioria [cerca de 90%], fora das águas açorianas”.
Fonte: Público.

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