quinta-feira, 6 de janeiro de 2022

Pescado: Procura geral aumentou 30%


Está a aumentar a procura por produtos da fileira do mar, em linha com a crescente preocupação dos consumidores com a sua alimentação e saúde. Entre 2013 e 2019, a procura por produtos de pescado cresceu globalmente 30%, segundo dados da AICEP, partilhados por José Junqueiro, especialista em economia do mar, por ocasião da conferência “Internacionalização do pescado português – barreiras e oportunidades” que teve lugar na feira Expo Fish Portugal, organizada pela Docapesca.

As exportações portuguesas de produtos de pesca têm sabido tirar partido desta tendência global do aumento da procura. O pescado português é atualmente o produto agroalimentar com mais peso nas exportações do País, seguido do vinho, azeite e hortícolas. A fileira, que inclui a pesca, a aquacultura e a transformação do pescado, gera anualmente um volume de exportações superior a mil milhões de euros, representa um Valor Acrescentado Bruto (VAB) de 1,7 mil milhões de euros e emprega 60 mil pessoas.

A tendência de crescimento das exportações da fileira registada na última década foi interrompida em 2020, em consequência da crise sanitária à escala global. A exceção foi para o subsetor das conservas de peixe, cujas exportações subiram 13,8% no ano passado, em termos homólogos. Segundo o Instituto Nacional de Estatística, as conservas de peixe foram o principal grupo de produtos exportado em Portugal em 2020.

No entanto, no primeiro semestre de 2021, as exportações da fileira recuperaram o ritmo de crescimento da última década, com um crescimento das vendas para o exterior, em valor, de 13%, face a igual período do ano anterior.

Entre janeiro e junho, as exportações de crustáceos, molúsculos e outros invertebrados aumentou 47,7%, as exportações de peixe cresceram 8% e as exportações de preparados de pesado e conservas subiram 6%, em relação ao período homólogo. A maioria das exportações nacionais (78%) tem como destino o mercado europeu, com um domínio demarcado do espanhol. Brasil e EUA lideram importações nos mercados extracomunitários.

Quando a indústria fala de peixe português refere-se ao peixe capturado em águas nacionais e ao pescado comprado no exterior e transformado e exportado pela indústria portuguesa. A balança comercial da fileira de produtos do mar é deficitária. “Se consumíssemos apenas peixe nacional, no final de abril já não tínhamos peixe para comer”, exemplifica António Guimarães, administrador da Soguima, empresa de Guimarães que processa cerca de 100 toneladas de peixe por dia.

“Grande parte do peixe que consumimos e exportamos é proveniente do exterior”, reitera o responsável que considera a não existência do acesso direto ao peixe uma das principais barreiras à exportação.

Apesar de Portugal importar muito mais pescado do que aquele que pesca e produz, a indústria transformadora acaba por atenuar o défice na balança comercial dos produtos de pesca pela sua relevância nas exportações. A Soguima, por exemplo, exporta cerca de 35% da sua produção anualmente para cerca de 30 países, mas ambiciona passar a quota de exportação para os 50%, em 2025.

O administrador da Soguima chama a atenção para a necessidade de diversificar os produtos, através da captura de novas espécies, de inovação e da aposta no serviço diferenciador, acrescentando valor à fileira, porque a avidez dos consumidores por comida não para de aumentar e os recursos são limitados. “Comemos cada mais e a nossa avidez por comida não para de aumentar. É fundamental promover o investimento externo da indústria portuguesa no exterior. Temos de ir atrás dos recursos e fazer fábricas onde está o peixe”.

António Guimarães chama ainda a atenção para a sustentabilidade do peixe produzido em aquacultura. “Qual é a diferença, em termos éticos e ambientais, de um aviário com 100 mil frangos e uma estufa de aquacultura com a mesma quantidade de salmão?”, pergunta o responsável. “Eu penso que estamos a falar da mesma coisa e que esse argumento a longo prazo virá para cima de nós”.

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