Desde agosto de 2024, o tráfego marítimo no Mar Vermelho aumentou cerca de 60%, atingindo uma média de 36 a 37 navios por dia. Apesar dessa recuperação, os números continuam abaixo dos níveis registados antes do início dos ataques dos houthis do Iémen, que, a partir de finais de 2023, passaram a atacar embarcações comerciais na região, alegadamente em apoio à causa palestiniana durante a guerra em Gaza.
A melhoria no tráfego deve-se sobretudo à redução dos ataques com mísseis e drones, após um cessar-fogo assinado entre os Estados Unidos e o grupo rebelde houthi. Desde novembro de 2024, os houthis passaram a restringir os seus ataques apenas a navios com ligações comprovadas a Israel. Segundo o contra-almirante Vasileios Gryparis, comandante da missão naval europeia Aspides, há agora mais de 99% de probabilidade de um navio não ser atacado, desde que não tenha escala ou ligação direta com Israel. Ainda assim, o risco não é totalmente descartado.
A missão Aspides, lançada pela União Europeia em fevereiro de 2024, tem um carácter exclusivamente defensivo e já escoltou mais de 470 navios na região, tendo abatido 18 drones, interceptado mísseis e destruído embarcações controladas remotamente. No entanto, opera com recursos limitados — entre duas e três fragatas em permanência — o que tem causado atrasos de até uma semana para os navios que aguardam escolta. A UE foi já instada a reforçar o dispositivo, idealmente para dez navios operacionais, de forma a garantir maior cobertura.
A persistência de ameaças, embora reduzidas, continua a gerar incerteza nos operadores logísticos, especialmente nas cadeias de abastecimento da Ásia para a Europa, obrigando algumas transportadoras a manterem rotas alternativas mais longas, via sul de África.
Este cenário teve efeitos colaterais em vários portos europeus. O Porto de Sines, que vinha a beneficiar do redirecionamento do tráfego por rotas mais extensas durante o pico da crise, poderá agora sentir um decréscimo no volume de carga e transbordo, à medida que os navios retomam gradualmente as rotas mais curtas e diretas pelo Mar Vermelho e Canal do Suez. Assim, a estabilização da região representa um alívio para o comércio global, mas pode traduzir-se num impacto económico negativo para alguns portos atlânticos que, temporariamente, tinham reforçado a sua relevância estratégica.

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